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terça-feira, 5 de março de 2013



“Duas mulheres agarram-me e arrastaram-me para o quarto. A que estava por trás de mim agarrou-me a cabeça e empurrou os seus joelhos contra os meus ombros, com toda a força, de forma a que eu não me mexesse. Os meus gritos ainda me ecoam nos ouvidos. Eu chorei e gritei”, conta Khady Koita, no seu livro “Mutilada”.

“Raiva é o que eu continuo a sentir, bem como incompreensão, tendo em conta o progresso que temos em todo o mundo, em imensas áreas. Mas por que é que não há progresso nisto? Por que é que as mentalidades não mudam? É o que me irrita”, afirmou Koita, numa entrevista ao Right On.

É o enfoque do debate crescente em África e na Ásia, onde a mutilação é mais praticada, mas é também um problema no Ocidente, com dezenas de milhares de casos entre as comunidades imigrantes.

A França é um dos países onde a mutilação está proibida. Houve mais de cem condenações por este crime em solo francês. A legislação também abarca casos em que as raparigas são enviadas para Estados onde a mutilação genital é legal.

A autora senegalesa Khady Koita luta há muitos anos para acabar com este tipo de violência de que foi vítima quando tinha sete anos. “Eu não compreendia esta violência infligida ao meu corpo de criança. Ninguém me avisou do que ia acontecer, nem as minhas irmãs, nem as minhas amigas mais velhas. Foi totalmente injusto e de uma crueldade gratuita, porque inexplicável. Por que é que eu fui punida?”

“As consequências psicológicas são muito importantes, porque duram uma vida. E há alturas em que nos leva para a depressão, mas na nossa cultura a depressão não existe ou não existia antes. Portanto, é apenas um breve período em que as coisas não estão excecionais. Mas eu estabeleço uma ligação entre tudo isso e a mutilação e, obviamente, isso tem consequências na minha vida pessoal, sexual, e na minha vida enquanto mulher. E, portanto, para mim as consequências são para toda a vida”, sublinha.

As autoridades têm dificuldade em conhecer a verdadeira dimensão da mutilação sexual no Ocidente, mas em França, por exemplo, médicos e outros profissionais estão obrigados a denunciar quaisquer casos suspeitos.

Quem sabe bem o que os ativistas enfrentam é Bafing Kul. O cantor do Mali foi forçado a abandonar o país natal, por causa de ameaças sobre uma canção que escreveu a condenar a mutilação sexual.

Bafing Kul considera que a música pode ajudar a mudar a mentalidade dos mais jovens, mas diz que mais homens têm que protestar contra a mutilação. “Eu não gosto do termo, mas na sociedade patriarcal o homem é o chefe da família. E mesmo que eu queira mudar isso, no Mali, por agora, a sociedade é patriarcal. Portanto, é muito importante os homens envolverem-se para mudarem as coisas, porque esta batalha não vai ser ganha no Mali, se os homens não se juntarem à luta. E isso aplica-se ao mundo todo. Além disso, a batalha contra a mutilação não é apenas um assunto das mulheres. Também nos diz respeito a nós homens. É um assunto de Direitos Humanos. Toda a gente está envolvida. Portanto, é muito importante que os homens se envolvam”.

Há alguns anos, Bafing regressou ao Mail para falar com as pessoas sobre a mutilação genital. Nas ruas, entrevistou homens que disseram coisas como “É útil para manter as mulheres fiéis”, “Seria um desastre acabar com isso, porque as mulheres iriam ter muito prazer” e “Não é só por causa da religião. A tradição exige-o”, “Na nossa aldeia, não se deve pôr isto em causa, se não quer correr riscos. É uma tradição” e “A minha religião obriga-me. Eu vou fazer isso a todas as minhas filhas, se for a vontade de Deus”. Algumas mulheres também defendem a prática: “As mulheres têm de ser mutiladas. Senão, ficariam loucas”.

“Estima-se que a mutilação genital afete uma em cada três mulheres em África. Aqui, na Europa, a França tem, pelo menos, 65 mil casos”.

Os críticos dizem que nenhuma religião exige a mutilação genital feminina e que é mais um assunto criminal do que cultural. Dizem que as campanhas de consciencialização devem ser sustentadas por leis duras.

“Pode dizer isso, repetir durante 30 anos às famílias para não o fazer, mas se eles não tiverem a ameaça da Justiça, elas farão o que quiserem. Eu sei que o medo de ir para a prisão, de ser punido pelo Tribunal, é o que faz muitas famílias serem prudentes e protegerem as suas crianças”, frisa a advogada Linda Weil-Curiel da Comissão para a Abolição da Mutilação Sexual.

“A educação desempenha um papel fundamental. Se analisarmos os países africanos, quando o número de pessoas com acesso à Educação, mesmo que seja só o básico ler e escrever, aumenta, vemos uma queda no número de filhas que repete a prática feita pelas suas mães”, realça Isabelle Gillette-Faye, diretora do grupo de Direitos Humanos GAMS.

As nossas filhas não são mutiladas é a mensagem que os ativistas querem fazer singrar.

Um voto das Nações Unidas a condenar esta prática veio pôr sob mais pressão os políticos de todo o mundo para acabarem com ela.

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