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sexta-feira, 8 de março de 2013


Como dar liberdade sem descuidar

JAIRO BOUER

JAIRO BOUER é médico formado pela USP, com residência em psiquiatria. Trabalha com comunicação e saúde. E-mail: jbouer@edglobo.com.br (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)
JAIRO BOUER
é médico formado pela USP, com residência em psiquiatria. Trabalha com comunicação e saúde. E-mail: jbouer@edglobo.com.br (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)
Há poucos meses dei carona para o filho de uma conhecida. Durante o trajeto, não consegui uma única frase coerente. Havia um atraso nas frases dele, e elas não faziam sentido. Na mesma noite liguei para a mãe e perguntei se ela notara algo de diferente. Ela disse que o filho estava mais lento, faltando mais que o habitual na universidade e, às vezes, parecia rir à toa. Ela atribuiu aquilo tudo ao uso esporádico de maconha, que ela considerava normal nessa fase.

Na mesma época, encontrei o filho de uma vizinha, numa trilha que conduz à praia. Achei estranho que não tenha me reconhecido, já que conversávamos com alguma frequência. Duas semanas depois, quando o vi novamente, perguntei como estava. Passou olhando para o céu e dizendo que o mundo estava ficando vermelho. A mãe me disse que achou que ele estava um pouco distante nas últimas semanas. Ele fora reprovado em praticamente todas as disciplinas do último semestre da faculdade. Ainda assim, ela não se sentiu no direito de vasculhar a vida do menino. Achava que era apenas passageiro, que ele era tímido e estava se adaptando a uma nova etapa da vida.

Será que os pais estão atentos às mudanças de comportamento dos filhos? É claro que a adolescência e o começo da vida adulta são momentos de oscilação emocional. Lógico também que os jovens têm padrões de comportamento distintos dos adultos. Os pais que toleram o uso eventual de maconha podem até esperar alguns momentos de lentidão. Mas as alterações descritas são muito perceptíveis e chamariam a atenção de qualquer um. Por que, então, demora tanto para cair a ficha dos pais?

Perceber logo que algo vai mal pode ser determinante no sucesso de uma eventual intervenção. Se o problema for uma depressão, relativamente comum entre os mais jovens, os riscos de autoagressão e suicídio aumentam se a doença avança. Se o caso for de um quadro psicótico (a esquizofrenia costuma se manifestar, pela primeira vez, nessa fase), quanto mais cedo o diagnóstico, menores os deficits e os eventuais impactos na vida do jovem. Se for a dependência de algum tipo de droga, o acompanhamento mais rápido reduz riscos. Estudos recentes relacionam a maconha na adolescência a futuros quadros psicóticos.

Por mais tolerante que os pais sejam, mudanças bruscas merecem atenção e cuidado. É importante não confundir a autonomia dada ao jovem que entra na universidade com a ausência de resposta por parte dos pais. Se o jovem está muito diferente, isso pode ser sinal de que algo não vai bem. 

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