CUECAS
Izabel de Mattos
Casamento é coisa pra maluco. Você está muito bem na sua
casa, vivendo na maior tranquilidade, tomando as decisões que mais lhe aprazem
e de repente se muda de mala e cuia para a casa do outro. Enquanto a paixão
dura é uma maravilha, são só duas pessoas que se amam e querem curtir ao máximo
o prazer do contato intenso e diário. A boa vontade de receber, de um, e de se
adaptar, do outro, facilita tudo. E você, que é a mulher, vai assumindo um
monte de funções que eram dele, que morava sozinho e se virava muito bem. Até
se esquece daquela máxima que vivia repetindo desde que se separou do primeiro
marido: “Lavar cuecas, nunca mais!”
E aí, um dia, apesar de continuarem se amando, a
convivência vai corroendo a tolerância, a paciência, e começam as cobranças:
“Nossa,
esse armário está muito cheio, minhas camisas estão sempre amarrotadas...”
E o
cara, que já se desligou dos afazeres da casa, deixando tudo nas suas costas,
um dia reclama: “Você esconde tudo, não acho mais minhas coisas.”
Até pelos correios ele se acha roubado: “É, eu
não sou mesmo mais ninguém nesta casa, só chega correspondência pra você.”
Mas
nosso maior erro é quando ele, que sempre lavou suas cuecas no banho, um dia se
vira e diz: “Não vou mais lavar minhas cuecas, põe tudo na máquina.” E você,
esquecendo aquela máxima, assume mais essa tarefa e até compra um saco para não
estragar as ditas cujas e as meias, além de quê, eventualmente tem que lavá-las
na mão mesmo, para que nunca faltem. E
aí, um dia o engraçadinho, lá com seus humores e, por azar, não achando nenhuma
na gaveta, esquece todos os outros 364 dias do ano e te acusa:
“Que
droga, nunca tem cueca limpa.”
Então
a revolta explode em você, mulher liberada, mas fazendo o maior esforço pra
relação correr satisfatória pra ambos. E grita a plenos pulmões uma outra
máxima:
“Casamentos, nunca mais!
PS1 – Depois de escrever esta crônica, a
raiva passou e até continuei achando que ele é muito bonzinho.
PS2
- Mas não retiro nada do que escrevi acima!
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