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sexta-feira, 22 de março de 2013


"Meu desfile foi capturado pelo 'politicamente correto'", afirma estilista Ronaldo

Designer falou a Marie Claire sobre as acusações de racismo que sofreu após usar apliques com palha de aço em seu último desfile na SPFW

DESFILE SEGUNDO DIA HOME (Foto: Getty Images / Divulgação)RONALDO FRAGA NO ENCERRAMENTO DO DESFILE DESTA TERÇA, 19 (Foto: Getty Images)


















A moda ficou em segundo plano na São Paulo Fashion Week. O recurso de perucas feitas de Bombril, adotadas pelo estilista mineiro Ronaldo Fraga, gerou uma onda de críticas e de acusações de racismo contra o trabalho. "Meu cabelo e dos meus familiares não são daquele jeito, honestamente ninguém tem cabelo bombril" ou "Gente, e esse cabelo que Ronaldo Fraga criou, extremo mau gosto para caracterizar os negros" foram alguns dos comentários lançados contra o estilista na web, principalmente via Twitter e Facebook.


Nos últimos 10 anos, pelo menos, a moda vêm sistematicamente adotando padrões de beleza caucasianos. São cabelos loiros, lisos, escorridos (ainda que a base de tratamentos químicos com formol e chapinhas a temperaturas escaldantes), corpos esguios, sem qualquer menção a curvas, a ancas fartas (tão marcadamente afro). Tudo isso posto, no entanto, não despertou grandes sanhas anti-racismo, contra a discriminação. Neste momento, talvez, os defensores dos direitos dos negros tenham cochilado. Ou se contentaram com a cota de 10% de modelos negras por desfile que lhes foi reservada - Naomi Campbell, com seus traços europeus, despontando como a principal representante até hoje, mesmo tendo mais de 20 anos de carreira.
Curiosamente, no entanto, o desfile de Ronaldo Fraga, que encerrou o segundo dia de Fashion Week, teve o condão de despertar a ira de inúmeros defensores repentinos dos direitos dos negros. No desfile, ele e o maquiador Marcos Costa enfeitaram as modelos com perucas de palha de aço. O desfile era uma obra de arte, que retomava a herança futebolística do estilista (o pai de Ronaldo foi jogador). “Nunca foi uma homenagem aos negros”, afirmou a Marie Claire o maquiador Marcos Costa, cujo pai adotivo também é negro. “Se a gente tivesse usado só loira de cabelo liso, como todo mundo faz, ninguém falaria que somos racistas”.
Modelos no desfile do estilista: o adereço na cabeça, marca registrada de Ronaldo, foi feito de palha de aço (Foto: Getty Images e Agência Fotosite (Divulgação)Modelos no desfile do estilista: o adereço na cabeça, marca registrada de Ronaldo, foi feito de palha de aço (Foto: Getty Images e Agência Fotosite (Divulgação)
A passarela em questão contou com modelos brancas e negras. E não foi a primeira vez que o recurso da palha de aço foi usado. Ronaldo já havia lançado mão do apetrecho no desfile "Eu amo coração de galinha", em 1996, em São Paulo. "Eu estou assustado com a repercussão porque eu sou mestiço, neto de descendente de escravos e filho de pai mulato jogador de futebol", diz Ronaldo. "Na coleção, o futebol dos anos 1930, 1940 e 1950 era o objeto de pesquisa e não de homenagem. A situação é uma grande ironia porque nos anos 30 os jogadores negros eram surrados em público quando cometiam falta porque o futebol é de origem inglesa e vem de uma elite branca. Foi no Brasil que nasceu o futebol arte, com influência da capoeira. E agora, meu desfile foi capturado pelo 'politicamente correto'".
A palha de aço na cabeça nada mais foi do que um recurso estético, uma licença poética, um apelo estilístico. Os detradores de Ronaldo Fraga, provavelmente, não entendem nem de arte e nem de negros. Acusá-lo de racista seria o mesmo que dizer que Tarsila do Amaral é jocosa em seu "Abaporu", ao retratar o povo brasileiro em linhas modernistas. E achar que a defesa dos negros e de seus direitos se dá em uma arena histriônica, em um compêndio de acusações e ofensas desprovidas de ligações com a realidade é no mínimo ingenuidade, senão má-fé. As arenas de debate estão postas: o Congresso Nacional discute morosamente a criação de cotas para negros em faculdades e no mercado de trabalho.
Será que esses que se levantam para apontar o dedo a Ronaldo já se mobilizaram para ajudar a sociedade a garantir os direitos dos negros? É irônico que não tenham produzido contra o deputado Marcos Feliciano (atual presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara), abertamente racista, a mesma enxurrada cibernética de críticas que destinaram ao estilista brasileiro. 

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