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sexta-feira, 22 de março de 2013


“Mulheres chefes gostam de ser queridas”, diz a cientista política Debora Spar

Especialista da Universidade Columbia, em Nova York, afirma que as líderes estão mais preocupadas com o consenso, correm menos riscos financeiros e mais riscos pessoais

A cientista política Debora Spar (Foto: Getty Images)A CIENTISTA POLÍTICA DEBORA SPAR CONVERSOU COM MARIE CLAIRE SOBRE LIDERANÇA FEMININA (Foto: Getty Images)
A cientista política americana Debora Spar passou 20 anos estudando negócios e mercados em Harvard. Ela era uma voz feminina tentando analisar um mundo ainda preponderantemente masculino. Apenas 15% dos CEOs de grandes empresas nos Estados Unidos são mulheres. Aqui, a situação é ainda pior: cerca de 4% dos CEOs são mulheres e ganham 42% menos do que os brasileiros que ocupam a mesma função. Nada disso passou despercebido pelos olhos de Debora. E desde 2008 ela se lançou a dirigir a Barnard College, um centro de estudos sobre mulheres na Universidade Columbia, em NY. Tem se dedicado a entender como formar lideranças femininas em todas as áreas e em qualquer parte do mundo.
Com esse objetivo, Debora já ouviu mulheres na China, na África do Sul, em Dubai e na Índia. No último dia 18, foi a vez de ouvir as brasileiras.Debora esteve em São Paulo para o seminário "Mulheres que mudam o Brasil" e falou a Marie Claire:
Marie Claire - Quais são as diferenças entre o modo de liderar feminino e o masculino?
Debora Spar - 
Nós não realmente sabemos todas as diferenças ainda até porque há poucas pesquisas sobre isso. Mas, sem entrar no mérito político, as pesquisas que existem encontraram uma característica interessante: em geral, as mulheres são menos propensas a correr grandes riscos financeiros do que os homens, elas são menos inclinadas a negócios com grandes riscos. Se as mulheres têm menos chances de colocar um negócio em risco e você é um empresário preocupado com seu negócio, faz sentido que você queira ter uma certa quantidade de profissionais com esse perfil na sua empresa. Por outro lado, há estudos que mostram que as mulheres estão mais dispostas que os homens a correr riscos pessoais em nome de um projeto. Elas podem ser demitidas e temem menos se expor a isso. Se você olhar para os recentes protestos na Europa e nos Estados Unidos, havia muitas mulheres ali, liderando a resistência. E também aparece nas pesquisas que elas estão mais comprometidas com decisões de consenso. Mulheres gostam de ser queridas, então elas querem trazer as pessoas para si e tendem a levar em conta mais o que os subordinados dizem do que os homens. Os homens se sentem mais confortáveis com conflitos, com ambientes em que as pessoas estão bravas e contrariadas. Não estou dizendo que a liderança feminina é melhor do que a masculina. Mas em uma organização grande faz sentido querer os dois tipos de liderança.
SANDRA BULLOCK INTERPRETA UMA CHEFE DO MAL NO FILME "A PROPOSTA". ALGO BEM DIFERENTE DA REALIDADE, SEGUNDO A ESPECIALISTA (Foto: divulgação)SANDRA BULLOCK INTERPRETA UMA CHEFE DO MAL NO FILME "A PROPOSTA". ALGO BEM DIFERENTE DA REALIDADE, SEGUNDO A ESPECIALISTA (Foto: divulgação)
MC - Esse conjunto de características ajuda a explicar a aparente maior capacidade das mulheres em recuperar empresas falidas?

Debora - Exatamente. Um pequeno exemplo disso é a Islândia, que entrou numa terrível crise financeira em 2008. Foi a Islândia quem deu o alerta para o mundo da crise. Todas as pessoas a frente de bancos e do governo islandeses imediatamente antes da eclosão da crise eram homens. E, agora, quem está limpando a sujeira inteira são as mulheres: elas sãos as executivas dos bancos agora.

MC - O que você pensa da liderança da presidente brasileira Dilma Rousseff?

Debora - Ela basicamente está seguindo os passos do ex-presidente Lula, que lançou a maior parte dos programas de governo atuais. E parece mais comprometida em representar as minorias e em desenvolver a ciência e tecnologia. Estou muito impressionada com o programa de financiamento de estudos para brasileiros no exterior, o Ciências sem Fronteiras. É notável que o Brasil tenha o desejo de melhorar seu nível de educação e a humildade de mandar seus cidadãos buscar o conhecimento nos centros de excelência do mundo. Não conheço nenhum país que faça isso com tanta consistência. China, Rússia, Índia não reconheceram suas necessidades e estão tentando construir por eles mesmos o conhecimento. Acho que o único país que fez algo parecido foi a Arábia Saudita, mas em uma escala muito menor.

MC - De que maneira estudos acadêmicos podem ajudar as mulheres a serem melhores líderes?

Debora - Isso é muito interessante porque trabalhei com mercado financeiro durante toda a minha vida. Existe uma vasta literatura sobre a construção e as características das lideranças, mas são todas baseadas em pesquisas feitas com homens brancos. Historicamente, no governo e na economia, toda a liderança é masculina. Então, basicamente, não sabemos como mulheres ou mesmo homens negros lideram e estamos fazendo estudos para descobrir.

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