Nações Unidas, 5/3/2013 – As mulheres estarem pouco representadas na indústria dos meios de comunicação deveria surpreender a poucas pessoas. No entanto, a severidade deste desequilíbrio e suas consequências são menos óbvias. Estas desigualdades foram objeto de uma pesquisa do Women’s Media Centre (WMC), cujo informe anual 2013, The Status of Women in the U. S. Media (O Status das Mulheres na Mídia dos Estados Unidos), também sugere maneiras de abordar tais disparidades.
O documento foi compilado por Diana Mitsu Klos, estrategista de mídia, e deveria servir como um “chamado de alerta para a indústria dos meios de comunicação e para os consumidores, pois não estamos vendo, ouvindo ou lendo a história completa”, declarou à IPS a presidente do WMC, Julie Burton. A entidade que dirige considera que, para proteger a cultura democrática, as audiências devem entender a gravidade deste problema, e que uma representação desigual de mulheres no jornalismo e nas demais áreas da comunicação torna mais difícil apresentar perspectivas justas e diversas sobre os fatos.
O WMC trabalha para superar a persistente brecha de gênero, capacitando mulheres para estarem prontas para trabalhar nos meios de comunicação, controlar o sexismo e as práticas injustas, além de organizar campanhas e petições pedindo aos que estão no poder para assumirem sua responsabilidade. Julie Burton conversou com a IPS sobre as conclusões do informe e sobre os desafios que a indústria dos meios de comunicação enfrenta.
IPS: Qual a relação entre diversificar os meios de comunicação e construir uma democracia sã?
Julie Burton: Sabemos que as mulheres constituem mais da metade da população, mas na mídia não as vemos nem as ouvimos em igual quantidade quanto os homens. Há uma crise de representação para as mulheres. Isto também ocorre com as pessoas que não são da raça branca, que até 2050 também serão maioria no país. Ao decidir quem fala, a mídia define a história que nos transmitem. Também apresentam uma imagem de qual é nosso papel na sociedade. Queremos que esses veículos relatem a história completa, e que todos nos beneficiemos disso. Também é uma questão de credibilidade. Se queremos uma democracia sã, nossos meios de comunicação e nossa sociedade devem representar plenamente as vozes e as contribuições de todos e todas.
IPS: Quando uma mulher se forma na universidade e obtém diploma de jornalista, mas não consegue trabalho nessa área, o que pensa que está acontecendo? Há incentivo para que as mulheres se candidatem a empregos no jornalismo?
JB: O informe mostra que as mulheres estão obtendo empregos em relações públicas e publicidade, e isto é uma boa notícia. Mas no tocante aos cargos na redação, o desafio continua. A inserção profissional não tem a ver apenas com talento, mas também, às vezes, com quem se conhece. Esses contatos e redes têm importância. Temos a esperança de que as mulheres jovens não desanimem e continuem buscando oportunidades no jornalismo. Além disso, a indústria das notícias em sua totalidade está diminuindo, já que cada vez mais pessoas se informam por meios eletrônicos. Mas as mulheres, de todo modo, continuam se esforçando para conseguir a igualdade nas plataformas de mídias na internet.
IPS: A atual indústria dos meios de comunicação é diversificada e apoia as mulheres?
JB: Neste momento, 96% de todos os cargos influentes nas empresas norte-americanas, incluídas as empresas de comunicação, são ocupados por homens. Podemos e devemos melhorar esse aspecto. Avançamos, mas ainda há muito por fazer. Os meios de comunicação são uma das forças mais poderosas em nossa cultura e nossa economia. Nos dizem quem somos e o que podemos ser. Necessitamos assegurar que quem define nossa história, quem conta do que se trata, represente mulheres e homens igualmente.
IPS: Acredita que nossa sociedade leva mais a sério a opinião de um homem do que a de uma mulher? É questão de credibilidade ou de preferência?
JB: Na semana passada comemoramos a apresentação do documentário Makers: Womens Who Make America(Empreendedoras: Mulheres que Fazem os Estados Unidos), que relata com as mulheres moldaram os Estados Unidos nos últimos 50 anos e fala das mulheres visionárias e revolucionárias que escreveram nossa história coletiva. Conseguimos progressos, mas temos um longo caminho pela frente. A má notícia a propósito de mulheres e mídia é que, embora saibamos que elas constituem mais da metade da população, não as vemos nem as ouvimos em igual quantidade que os homens. Isto implica divisões segundo o gênero, e se refletem nas fontes citadas nos noticiários, nas mulheres que estão diante e por trás da câmera. Demorou 144 anos de duras lutas para as mulheres conseguirem o direito ao voto. Como disse Frederick Douglass, “o poder não concede nada sem uma cobrança”. E os homens ostentaram praticamente todo o poder em nossa sociedade durante muito tempo. Isto está mudando, mas com muita lentidão. O Women’s Media Centre se esforça muito para que o statu quo valorize igualmente as vozes de homens e mulheres.