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quinta-feira, 14 de março de 2013


Mulheres do campo e agroecologia - relação feminista com a Mãe Terra


Eraldo Paulino
Jornalista e assessor de comunicação do projeto Mulheres do Campo
Adital


Através da agroecologia, as mulheres vêm retomando papel de liderança que lhes foi retirada por milênios de patriarcado e, gradativamente, são introduzidas novas relações políticas, com a família, com a natureza e com o próprio corpo a partir da liderança feminina no campo. Um dos exemplos dessa experiência foi vivida no Pará, de 2010 a 2012 no projeto "Mulheres do Campo”, realizado em 19 municípios pela Associação Paraense de Apoio às Comunidades Carentes (APACC), na região do Baixo Tocantins, em parceria com o Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense (MMNEPA), na região contida no nome da entidade, com financiamento da União Europeia (EU) e Pão Para o Mundo (PPM).

Nos primórdios da história da humanidade no ocidente, as sociedades eram nômades. Essas mulheres e esses homens do campo viviam um tempo de profunda harmonia e respeito com Gaya, sob a liderança das mulheres. Consequentemente o culto ao sagrado reverenciava a figura do feminino, porque as mulheres geram a vida. Vários símbolos dessa época resgatados por arqueólogos fazem menção ao útero, à vulva e outros elementos típicos da mulher. Nessa época, segundo estudos antropológicos, prevalecia uma relação horizontal, um poder "Com”, até que homens dominaram técnicas, subjugaram outras famílias, criaram estados e impérios e relegaram à mulher o papel de consortes, donas de casa, pessoas do silêncio; essa relação vertical também afetou a natureza, pois o cultivo da terra passou a ser colocada sob os ideais de poder, gerando o desequilíbrio alarmante da atualidade.
Quando as mulheres retomam essa liderança, na agroecologia, na economia solidária, e em espaços de poder, é como se parte dessa história que foi interrompida pela ganância do patriarcado fosse retomada, produzindo resultados que beneficia a todas e todos, e ao meio ambiente.

RESULTADOS
Em números, o projeto que tinha como foco saúde da mulher, maior participação política, agroecologia e segurança alimentar conseguiu resultados como de 94,44% e 86,11% de participação das mulheres em organizações sociais no Baixo Tocantins e no Nordeste Paraense, respectivamente após três anos de projeto. Nessas, seguindo a mesma ordem, 57,41% e 77,61% em cargos de direção.
Mas o que mais encanta não são os números, e sim os depoimentos de quem experimenta agroecologia sob o protagonismo da mulher. "Antigamente era triste olhar pras crianças da nossa comunidade vê-las todas com a barriga grande, porque a gente basicamente plantava só mandioca pra vender farinha, e nossa base alimentar não era nossa prioridade. Hoje em dia, quando a gente vai plantar, nos preocupamos com o meio ambiente e com o bem estar da nossa comunidade, por isso a gente planta coisas que servem ao nosso próprio alimento e plantas medicinais que servem pra nossa saúde”, relatou Francisca da Silva Gama, de 54 anos, membro da comunidade quilombola São José de Açaiteua.
O marido dela, Geraldo Oliveira Gama, de 65 anos, comentou com carinho o que significa ser liderado pela esposa, enquanto conta tudo o que a comunidade conquistou graças à agroecologia. "Quando a mulher começou a participar do movimento de mulheres, ela descobriu formas de comercialização dos produtos que permitem hoje a gente plantar com a certeza de que vamos ter como vender. A gente olha hoje pro nosso quintal, e percebe ele produtivo, e olha pro nosso lote, e percebe que não fazemos mais hoje queimadas pra plantar. Me orgulho de ter uma esposa atuante”, pontua.
"Meu marido vendeu até a Kombi dele pra gente investir no nosso laboratório de plantas medicinais que serve pra todas as famílias da comunidade. Nós percebemos que os saberes de nossas mães e avós, além de favorecer a nossa saúde, também pode gerar lucro. Hoje a gente percebe que muitos lotes e muitos quintais estão sendo reflorestados ou preservados porque percebemos que podemos ter lucro e viver melhor sem perder o verde e prejudicar as matas ciliares”, resumiu Rosilene Freitas, de 41 anos, participante da Associação Municipal de Produtoras/es Rurais da Agricultura Familiar de Capanema –PA.
"Nesse projeto conquistamos muito mais do que resultados numéricos, conquistamos a experiência num caminho que percebemos ainda mais aberto a partir do que foi possível fazer. Tenho certeza que o exemplo dado por essas mulheres cativa outras na comunidade, e assim podemos sonhar ainda mais com um futuro com maior segurança alimentar, maior participação e saúde da mulher, e uma outra lógica no campo, que não a do agronegócio patriarcal, e sim da agroecologia, que tem muito de feminista”, analisou Rita Teixeira, uma das coordenadoras do projeto.
"As mulheres do mundo que experimentam a agroecologia de forma protagonista não plantam somente na terra, mas nos corações e mentes das pessoas, pois são mulheres do cuidado, não só com a terra, mas com a humanidade”, avaliou Nilde Souza, do Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense.

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