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sábado, 9 de março de 2013


O desejo de ser respeitada no momento em que se está fragilizada

Série especial dedicada ao Dia da Mulher e à campanha #WomenWishes, promovida por todas as Marie Claire do mundo

É quando se está mais frágil, em situação mais complicada, carente de qualquer ajuda, que o desrespeito e o descaso doem mais. Mulheres sentem sistematicamente a solidão de ter um direito violado.
POR UM PARTO MAIS HUMANO
TODAS AS MULHERES TÊM DIREITO A ACOMPANHANTE NA HORA DO PARTO (Foto: Getty Images)
TODAS AS MULHERES TÊM DIREITO
A ACOMPANHANTE NA HORA DO PARTO
(Foto: Getty Images)
É lei. Desde 2005, todas as gestantes têm direito a um acompanhante na hora do parto. Na prática, o que se vê é o direito negado. Ou hospitais que cobram pela permanência do acompanhante junto à mulher. O trauma é sentido na hora, mas não costuma extrapolar as paredes do hospital. No último dia cinco, no entanto, uma família de Sorocaba conseguiu reafirmar seus direitos na Justiça.

Em meio às dores do parto, Aline Cássia dos Santos, não conseguia pensar em Lívia, o bebê por chegar. “Eu só ficava perguntando se meu marido ia vir, quando ele ia vir. Quando a médica me deu a notícia de que ele não ia poder assistir o parto, eu chorei. Só não fiquei mais nervosa porque sabia que ia ficar ainda mais complicado para mim na hora do parto”, diz Aline. Dois anos e meio depois do nascimento da criança, a família ganhou na justiça a ação que moveu contra o hospital. O juiz determinou o pagamento de R$5 mil pelos danos morais sofridos pelo casal. “É uma forma educativa para fazer com que outras pessoas tenham seu direito respeitado”, afirma Bruno Santana, o pai de Lívia. “A decisão alivia, mas ficou uma lacuna na minha vida. Para mim é algo irreparável”, diz.


DRAMA NAS PRISÕES FEMININAS
A SITUAÇÃO DAS MULHERES NOS PRESÍDIOS BRASILEIROS PRECISA MELHORAR - E MUITO (Foto: Getty Images)
A SITUAÇÃO DAS MULHERES NOS PRESÍDIOS
BRASILEIROS PRECISA MELHORAR - E MUITO
(Foto: Getty Images)
No Brasil há cerca de 36 mil mulheres presas. Pelo menos metade delas está presa por associação para o tráfico, ou tráfico de drogas. Nas palavras do médico Dráuzio Varella, são, em geral, pessoas que cometeram pequenos tropeços. Em vez de serem ajudadas a levantar, acabaram empurradas ladeira abaixo pelo sistema. “HÁ ANOS vejo mulheres sendo presas por tráfico de drogas ao visitar maridos e namorados nas cadeias. Quase sempre são jovens com pouca escolaridade, mães de mais de um filho, moradoras da periferia das cidades, apaixonadas por bandidos que nunca mais se lembrarão delas quando estiverem atrás das grades”, diz Dráuzio, que trabalha no sistema penitenciário há décadas. “Essas moças geralmente são surpreendidas pelas funcionárias ao passar pela revista, em dia de visita, tentando levar cocaína ou maconha escondida em sacos plásticos introduzidos na vagina. Encaminhadas à delegacia, são autuadas em flagrante e trancadas. Não voltam mais para casa; os filhos ficarão sob os cuidados sabe lá Deus de quem.”


Assim como os filhos, abandonados à própria sorte na rua, elas estarão abandonadas à própria sorte dentro das cadeias. Quase nunca recebem namorados, amigos, parentes. No geral, a visita íntima é proibida para mulheres, o que ajuda a explicar o desenvolvimento de um certo lesbianismo temporário, nas cadeias femininas, para aplacar carências afetivas. Mas as necessidades materiais são insolúveis de trás das grades.


Em São Paulo, onde está a maior parte das mulheres encarceradas, na lista de produtos a serem fornecidos aos presos pela Secretaria de Administração Penitenciária consta apenas cuecas. Não há nenhuma menção a calcinhas. Os absorventes distribuídos nas unidades femininas equivalem a menos de um por pessoa por mês. Nas cadeias públicas administradas pela Secretaria de Segurança Pública não há distribuição de calcinhas, nem de absorventes. O resultado é que, com alguma freqüência, as mulheres se vêem obrigadas a lançar mão de meias ou até de miolo de pão quando estão menstruadas. É real qualquer expectativa de que elas saíam dali pessoas melhores? Provavelmente, ao final, serão apenas menos humanas.


VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
Depois de serem estupradas, as mulheres costumam passar por uma segunda aflição: a denúncia. Chegam a delegacias quase sempre mal equipadas para recebê-las, passam por constrangimentos na hora da denúncia, com freqüência precisam deixar suas roupas ali e não têm com que se vestir. As delegacias das mulheres foram criadas para amenizar esse problema. E é de uma delas que vem um exemplo interessante, que poderia ser adotado em todo o país. Em Brasília, mulheres estupradas recebem uma “bolsa de crise”, uma mochila discreta que contem uma muda de roupas limpas, absorvente, pente, escova e pasta de dente, sabonete, toalha. Tudo para que a mulher possa fazer sua denúncia depois de reconstruir minimamente a dignidade. As roupas da vítima que, frequentemente guardam material biológico que pode ser usado contra o agressor, podem ser mandadas para perícia sem que a mulher passe por um novo constrangimento. É uma maneira de reduzir os danos depois que o trauma foi sofrido.

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