Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

quarta-feira, 20 de março de 2013


Roberto Rillo Bíscaro: “Venci preconceitos e virei defensor dos albinos”

O professor fala das dificuldades que enfrentou e narra como conseguiu mudar a situação e lutar por seus direitos


EM DEPOIMENTO A MARGARIDA TELLES

ROBERTO RILLO BÍSCARO Tem 46 anos, é professor de dramaturgia americana e autor do livro Escolhi ser albino (Editora EdUFSCar) (Foto: Gustavo Lacerda)
ROBERTO RILLO BÍSCARO
Tem 46 anos, é professor de dramaturgia americana
e autor do livro Escolhi ser albino (Editora EdUFSCar)
(Foto: Gustavo Lacerda)
"Quando nasci em São Paulo, tinha tudo para que minha vida desse errado. Sou albino. Isso já acarreta uma série de problemas, como não poder tomar sol ou ter visão prejudicada. Tenho 10% de visão no olho direito e 15% no esquerdo. Além dessas inconveniências físicas, havia também os problemas econômicos. Minha mãe era empregada doméstica, e meu pai, feirante. Tínhamos poucos recursos. Quando nasci, eles ficaram assustados. Já tinham perdido um filho com albinismo, com sérios problemas cardíacos.

Passado o susto, minha família sempre me aceitou e deu apoio. Fora de casa, era diferente. As pessoas me apontavam na rua, debochavam. Fui chamado de vovô, rato branco, até mesmo de marciano – e olha que nem sou verde. Nunca quis me esconder em casa. Desenvolvi uma série de estratégias. À medida que as pessoas me zoavam, fui percebendo que elas me colocavam no centro das atenções. Na adolescência, decidi que ocuparia essa posição por conta própria. Fiz teatro amador, estudei inglês e me dediquei aos estudos. Com o incentivo de professores, fiz mestrado e doutorado em dramaturgia americana na USP – e virei professor.

Calcula-se que, na Europa, exista um albino para cada 17 mil pessoas. No Brasil, essa proporção pode ser maior, porque o albinismo é mais comum entre negros, e aqui eles são mais presentes. Mesmo assim, as pessoas têm muitas dúvidas sobre o albinismo. Até já me perguntaram se enxergamos melhor no escuro. Imagina. Eu, com 10% de visão, não enxergo bem em lugar nenhum. Depois de perceber que quase não havia material atualizado em português sobre albinismo na internet, decidi fazer o Blog do Albino Incoerente, em fevereiro de 2009. O blog não serviria para seu propósito se ninguém o lesse. Por isso, passei a divulgá-lo. Mandei e-mail até para embaixadas. A audiência foi construída a partir disso. Fico sabendo de gente que faz monografia sobre o tema e até de publicitários que selecionam albinos para o elenco de filmes publicitários.
Meu maior propósito com o blog é lutar por políticas públicas voltadas aos albinos. Precisamos usar protetores solares diversas vezes por dia e óculos de sol, muitas vezes com grau. Tudo isso sai bastante caro, e muita gente com albinismo não tem recursos, porque o preconceito torna mais difícil conseguir bons empregos. Com meu blog, consegui auxiliar na criação de um projeto de lei que tramita na Câmara e prevê protetores solares e óculos de sol gratuitos para albinos no Estado de São Paulo.

Apesar de não me dedicar integralmente ao blog (sou professor no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Birigui), ajudo a divulgar o assunto entre políticos e o público. Quando o Albino Incoerente ficou popular, decidi escrever um livro sobre o tema. Mandei o material pronto para uma editora e recebi um parecer positivo. O livro Escolhi ser albino foi lançado no ano passado. Um dos motivos para o sucesso foi usar a internet para fazer contatos. Os canais e as portas estão aí. Consegui tantos resultados bons porque nunca me coloquei no papel de vítima."

Nenhum comentário:

Postar um comentário