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terça-feira, 12 de março de 2013


"Soltar os cachorros" faz tão mal quanto guardar mágoa; equilibre-se

Marina Oliveira e Rita Trevisan
do UOL, São Paulo

Para evitar ressentimento e discussões desgastantes, a solução é sinalizar quando se sente ofendido, mas sem perder as estribeiras

Um chefe grosseiro, que dá uma bronca daquelas na frente da equipe toda. Um colega folgado, que rouba para si os créditos de um trabalho feito em grupo. A família, que insiste em dar palpite nas suas decisões pessoais sem a menor cerimônia. Estas situações podem fazer até a pessoa mais zen do mundo perder completamente a linha. E, de acordo com os especialistas, o melhor é mesmo reagir, independentemente do ocorrido. 

"Os pais, infelizmente, não costumam estimular seus filhos a expressarem o que sentem. Ao contrário: acabam reforçando conceitos como o de que é preciso respeitar os mais velhos, aceitar as ordens deles sem questionar, evitar a todo custo brigas com colegas e irmãos e assim por diante", aponta o psicólogo José Roberto Leite, coordenador da unidade de medicina comportamental da Unifesp. 

Com o tempo, a tendência é incorporar este tipo de comportamento como um padrão. "Isso pode tornar as pessoas incapazes de dizerem o que sentem, porque elas têm sempre um receio de ferir o outro. O problema é que, nessa situação, nos colocamos sempre numa posição inferior, dando mais importância ao que o outro sente do que ao que nós sentimos", diz. É um erro.

Geralmente, quem paga para não entrar em uma discussão costuma usar argumentos como: "Não compensa implicar por isto" ou "Não vou me desgastar por pouca coisa". Porém, de acordo com o psicólogo, é fundamental começar a dar mais atenção a esses pequenos acontecimentos, principalmente se eles deixam uma marca na sua vida e frequentemente voltam à memória. "Guardar tudo o que sente é uma fonte de ansiedade e estresse muito grande. Com o tempo, esse comportamento pode até levar ao desenvolvimento de uma atitude depressiva, quando a pessoa passa a desempenhar as atividades diárias sem nenhum entusiasmo", alerta Leite. 

Para a psicóloga Cristiane Moraes Pertusi, doutora em Psicologia do Desenvolvimento Humano pela USP, guardar demais as emoções negativas também pode influenciar na maneira como os outros o enxergam. "A pessoa pode passar uma imagem de falta de comprometimento em relação a si mesma e às suas relações afetivas", aponta. 

O caminho do meio

A solução seria, então, colocar para fora tudo o que sentimos e pensamos, aproveitando aquele impulso de raiva ou tristeza? Não exatamente. O mais inteligente é deixar bem claro que você se sentiu ofendido, porém, sem perder as estribeiras. Pessoas que reagem instintivamente às situações, sem antes refletir sobre o acontecido, geralmente se envolvem em discussões desgastantes, saem ainda mais magoadas e, pior, não conseguem resolver o caso de um jeito eficiente. A expressão "quem fala o que quer, ouve o que não quer" veste os mais impulsivos como uma luva.

"Quem não tem pressa de responder consegue analisar a situação e expressar o que sentiu no momento mais propício", pondera Cristiane. A psicóloga garante que é sempre melhor deixar para voltar ao assunto numa ocasião em que o lado racional poderá falar mais alto que o emocional. 

Mas expressar-se da maneira correta não é tarefa tão fácil e pode exigir algum treino. Por isso mesmo, Leite ensina seus pacientes a se imaginarem na situação em que se sentiram desconfortáveis e a criarem uma fala, uma resposta que gostariam de ter dado naquele momento. O discurso deve ser repetido em frente ao espelho até que haja total segurança sobre a adequação das palavras e da mensagem. 

Segundo o especialista, isso é o suficiente para que qualquer pessoa se prepare para enfrentar o seu interlocutor, e retomar um assunto pendente. "Para ser claro em relação àquilo que se pensa, é preciso pensar não apenas sobre o que se vai verbalizar, mas assumir também uma postura séria, um olhar firme e um tom de voz adequado", explica.

Todo o cuidado é pouco 

A sinceridade e a cautela devem sempre caminhar juntas durante uma conversa difícil. Uma boa estratégia é iniciar o diálogo falando das próprias percepções, em vez de começar o papo acusando o outro. Isso porque, ao perceberem que estão sendo julgadas, as pessoas podem se sentir acuadas e naturalmente se prepararem para o ataque. "Prefira relatar como você se sentiu em relação ao que a pessoa fez", ensina Cristiane. 

Pior do que engolir sapo é remoer o ressentimento por tempo indeterminado. No entanto, às vezes é preciso reconhecer a impossibilidade de falar exatamente o que se sente. Responder a grosseria de alguém com cargo superior ao seu no trabalho, por exemplo, pode ser um tiro no pé, assim como discutir com autoridades públicas. "Em situações como estas, é preciso ter em mente que você não reagiu por uma questão de estratégia e não porque foi incapaz de verbalizar o que sentiu. Em vez de remoer, aceite que tomou a atitude mais sábia e inteligente", orienta Leite.

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