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domingo, 17 de março de 2013


Traição financeira: conheça o comportamento que prejudica o relacionamento entre casais

Atitudes como guardar (e gastar) dinheiro secretamente, atrapalhando – ou arruinando – os planos conjuntos, são o que os experts chamam de traição financeira, tão nociva para a relação quanto um caso amoroso. Saiba mais!
Rachel Campello
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 Foto: Thinkstock
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Depois de noites em claro e de enfrentar muito sofrimento por causa de uma gastrite e um estado constante de nervosismo, ansiedade e tensão, a dentista Beatriz Lima, 43 anos, de Belo Horizonte, resolveu abrir o jogo com o marido. Ela havia acumulado uma dívida de mais de 100 mil reais – sem que ele jamais tivesse percebido – e estava financeiramente quebrada. Ao alívio de contar a verdade, seguiu-se o choque com a reação do companheiro, com quem é casada há 20 anos. “Eu preferia que você tivesse me traído com outro homem”, disse, assustado com a revelação.
A maioria de nós só entende como traição o envolvimento secreto do cônjuge com outra pessoa. Mas os especialistas já detectaram um novo tipo de infidelidade: a financeira – que, segundo defendem, pode desestruturar o relacionamento amoroso tanto quanto um caso extraconjugal. “Embora sejam diferentes, ambas as situações levam às mesmas consequências: um grande sofrimento e um enorme desafio para aquele casal que passou por isso, mas quer superar a dor”, analisa a psicóloga Cleide Bartholi Guimarães, colaboradora do Ambulatório dos Transtornos do Impulso do Hospital das Clínicas de São Paulo.
O tema tem mobilizado cada vez mais os estudiosos do comportamento e experts em finanças pessoais. Em seu livro mais recente, Os Segredos dos Casais Inteligentes (Sextante), o consultor financeiro Gustavo Cerbasi aborda a questão e toca em um ponto polêmico, que pode ser a causa de boa parte das traições nessa área: a conversa sobre dinheiro. Vários casais consideram o assunto tabu e fogem dele. Mas Cerbasi enfatiza que o papo sobre grana é essencial para a felicidade a dois e, em um dos capítulos, ensina como começar um sem brigar. É um terreno pedregoso. Em uma pesquisa americana da National Endowment for Financial Education (Nefe), organização que orienta indivíduos e famílias a tomar decisões financeiras, cerca de um terço dos 2 mil entrevistados admitiu ter mentido para o parceiro sobre seus gastos e investimentos. Em parte dos casos, o “crime” até era pequeno: esconder do outro uma compra um pouco mais dispendiosa ou uma fatura de cartão ligeiramente mais pesada do que a habitual. Mas uma parcela confessou manter contas bancárias secretas ou nunca revelar sua real renda. Ou, ainda, não contar o tamanho de uma dívida que já se tornara volumosa. Para Ted Beck, diretor executivo da Nefe, essa falta de honestidade pode levar, a longo prazo, a danos irreversíveis na relação.
Cartas na mesa
Ok, ninguém está dizendo que você precisa confessar a aquisição de um par de sapatos ou de um estojo de maquiagem assim que entra em casa ou que pessoas em relacionamentos estáveis devem prestar contas detalhadas ao parceiro de todos os centavos gastos. Até porque alguns casais mantêm, além do dinheiro conjunto, cotas particulares que podem ser usadas como cada um bem quiser, sem a obrigação de dar satisfação. Então, afinal, o que é traição financeira? “Podemos classificar assim situações em que a liberdade individual coloca em risco planos assumidos pelo casal ou ameaça a liberdade do outro”, define o consultor Gustavo Cerbasi. Mas quanto é capaz de fazer esse estrago? Será que basta estourar o limite do cartão de crédito em alguns reais ou é preciso torrar sozinha a herança que você acabou de receber para ser considerada uma parceira infiel? Nem uma coisa nem outra. Ou melhor: as duas. O x da questão aqui nada tem a ver com o valor consumido, mas com a constatação de que o parceiro está tomando decisões unilaterais em prejuízo dos planos a dois ou da família. “É uma decepção grande e uma grave quebra de confiança perceber que o companheiro não manteve o acordo estabelecido”, explica a consultora financeira americana Ruth Hayden, autora do livro For Richer, Not Poorer: The Money Book for Couples (ainda não publicado no Brasil), um guia para ajudar casais a lidar bem com o dinheiro.
É verdade: o problema em esconder gastos e dívidas na maioria das vezes não está relacionado ao dinheiro, e sim a essa quebra de confiança. “A partir do momento em que a ação acomoda um segredo ou uma mentira, o valor perde a importância”, concorda a psicóloga Cleide Guimarães, autora de Até Que o Dinheiro Nos Separe (Editora Saraiva). Durante muito tempo, a nutricionista Denise Nogueira, 39 anos, de São Paulo, desviou uma parte do dinheiro das despesas comuns e da casa para comprar perfumes e roupas para si mesma. A quantia torrada para fins pessoais nunca fez falta no orçamento doméstico e a família vivia com bastante conforto. Porém, quando as faturas de cartão de crédito começaram a trazer à tona a verdade, o casal mergulhou em sua maior crise em dez anos de união. Não pelo dinheiro, mas pela sensação de que um pacto havia sido rompido e, com isso, outras mentiras (e de todos os tipos) poderiam aparecer na relação. Ocorre que é na confiança inabalável no outro que os casais maduros se sustentam. Sem ela, os especialistas dizem que fica difícil – senão impossível – fazer um relacionamento durar, mesmo que não aconteçam grandes deslizes.
Assim, a melhor tática para prevenir a traição financeira é colocar as cartas na mesa. Os casais devem falar muito abertamente sobre dinheiro e os planos que os dois lados da relação imaginam para ele. É preciso discutir com objetividade como dividir os recursos da família para atender às necessidades e aos sonhos coletivos e também aos projetos e desejos de cada um. Mas a maioria acha isso tão difícil de fazer – ou tão desagradável e incômodo – que prefere fugir de potenciais discussões. Resultado: as duas partes mantêm vida financeira paralela e acabam cometendo traição. Há quem passe anos escondendo compras no porta-malas do carro até acabar como a dentista Beatriz, citada no início desta reportagem. Depois de fazer a confissão, a solução foi entregar seus rendimentos, cartões e talão de cheques para o marido, que conseguiu reverter a bancarrota. Para os experts, aliás, nessas horas, nem interessa se o dinheiro “desviado” foi gasto na aquisição de um plano de previdência privada ou de um vestido novo. “A consequência é igualmente destrutiva para o relacionamento”, diz Cleide Guimarães.
Como sócios
Na prática, o casamento é uma sociedade em que duas pessoas se juntam para conquistar e construir coisas. Daí a necessidade de discutir previamente a forma como o dinheiro que os “sócios” recebem deve ser gasto e/ou investido. É essencial estabelecer acordos a respeito das prioridades, considerando o que cada um julga mais conveniente e confortável. Há quem ache aceitável que cada uma das partes tenha os respectivos salários depositados em contas diferentes. Há quem defenda que é preciso ter conta conjunta. Não à toa, os experts receitam diálogo para que sejam criadas as regras básicas da relação. Mas isso não significa viver em uma camisa de força. Regras pressupõem negociação e só entram em vigor se houver comum acordo. Além disso, elas podem ser mais ou menos permissivas. “Falar sobre dinheiro é estabelecer um jogo aberto, que fortaleça a cumplicidade do casal e, principalmente, estimule a fazer sacrifícios e a se esforçar pelo que vem pela frente”, escreve Cerbasi em seu livro.
Quando se fala em regras, assusta a impressão de que, ao fazer uma combinação, ela valerá para sempre. Isso não é verdade, ainda mais se tratando de dinheiro. Um acordo feito quando os cônjuges estão empregados e ganhando bem terá necessariamente de ser alterado se alguém perder o emprego. Da mesma forma, marido e mulher podem adotar um regime de austeridade e eliminar gastos com restaurantes, viagens e supérfluos para superar dificuldades ou alcançar uma meta, mas relaxar o controle depois. “Ao rever o estabelecido e abrir espaço para novas regras, o casal se mantém leal e reduz o risco de traição”, avisa a psicóloga Cleide. O fudamental é lembrar que não há certo ou errado nessa seara desde que funcione para os dois – e isso afaste as mentiras.
Você já traiu?
A resposta é “sim” para quem se identificar com uma das situações abaixo. Na visão da maioria das pessoas, algumas atitudes parecem inofensivas para o relacionamento. Mas não se engane:
É traição se você...
- Mantém uma conta bancária ou cartões de crédito em segredo
- Esconde compras para o parceiro não ver e/ou mente sobre o valor das peças que adquire.
- Omite um bônus que recebeu da empresa. Você pode até querer gastá-lo sozinha, mas não vale mentir.
- Pega dinheiro emprestado de amigos sem o par saber que você andou precisando de ajuda.
- Esconde exatamente quanto ganha ou deve.
- Já foi fiadora sem contar ao marido.
- Dá, secretamente, ajuda financeira a amigas ou familiares.

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