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segunda-feira, 11 de março de 2013


Você quer ajuda para criar seus filhos?

Karina Arruda

Foi mais ou menos para responder essa pergunta que os suíços assistiram ao resultado de mais um plebiscito no último domingo. Entre três questões totalmente diferentes, essa era a única que envolvia a família e visava a obter o aval do cidadão para que o Estado facilitasse a harmonia entre a vida pessoal e profissional e provesse a infraestrutura adequada para que mães com bebês voltassem aos seus empregos ou estudos.

Hoje ,a demanda por creches e jardins de infância na Suíça é muito superior à oferta, o que significa permanecer em uma lista de espera por, em média, dois anos. Logo que engravidei, recomendaram que eu registrasse meu pedido imediatamente –  e hoje eu entendo a razão. Não apenas não ganhei vaga no sistema público, como só consegui no sistema particular por milagre, após meses de busca e muitas negativas, para dar continuidade aos meus estudos no mestrado em meio período. Diante dessa realidade, seria incontestável esperar uma aprovação da sociedade para que o governo fizesse os ajustes para corrigir a disponibilidade de lugares. Não foi o que aconteceu. Uma apertada maioria dos eleitores votou a favor, mas a maioria dos cantões votaram contra. Pelo princípio de dupla maioria do sistema político suíço, a emenda não foi aprovada. O problema continuará a ser enfrentado por famílias que desejam conciliar a família com suas carreiras profissionais.

O que está por trás deste surpreendente resultado que dividiu o país é um grande debate que envolve duas discussões paralelas: uma que diz respeito a excluir a responsabilidade do Estado nessa questão ou, como inflamou um partido de extrema direita durante a campanha prévia ao plebiscito, evitar uma “estatização da família”. No rastro desse discurso, veio a defesa da paternidade consciente e a necessidade de assegurar a presença da mãe no lar durante os primeiros anos da criança e na formação do seu caráter. Se fosse no Brasil, provavelmente teriam como slogan o ditado popular “quem pariu Mateus que o balance”. A força que derrubou a medida veio dos cantões germânicos e rurais, mais conservadores e guardiões do modelo familiar tradicional. Neste caso, excluiu-se qualquer solução sobre a necessidade da renda dupla para sobreviver com qualidade ao alto custo de vida na Suíça, embora existam sinais de novos ensaios para a redução de impostos para famílias nesta situação.

Do outro lado está, a vida moderna, onde os pais trabalham porque precisam ou porque querem e mulheres que nutrem outras ambições além da vida familiar, acreditando ser totalmente possível conciliar as duas responsabilidades. Mesmo que muitas vezes envolvida pela ambiguidade, o sentimento de culpa e a consciência de estar perdendo a fase mais bonita da infância dos filhos, a escolha, necessária ou optativa, precisa de endosso do governo para ser respeitada. Sobretudo porque as creches públicas na Suíça não são gratuitas. É necessário pagar uma mensalidade de acordo com a renda familiar e não sai nada barato para uma família de classe média.

Assume-se, então, que a questão ainda é realmente cultural, e faz a Suíça ser um dos países da Europa mais atrasados no que diz respeito à igualdade de direitos entre homens e mulheres e ser vista por cerca de 60% do cidadãos como um país não favorável à família, segundo uma pesquisa recente realizada pela instituição Pro Juventute. Para essas pessoas, o curto período da licença maternidade comparado com outros países europeus, a falta de creches, seguros obrigatórios caros e o custo de vida não compensam a paisagem, a segurança e a organização que o país oferece.

Ter filhos já não é tarefa fácil. E, por aqui, depender da ajuda do governo dificulta ainda mais.

http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2013/03/09/voce-quer-ajuda-para-criar-seus-filhos-a-suica-decidiu-que-nao/

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