Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Motivada por doença da mãe, cientista ganha prêmio da Unesco

17/08/2016
Marina Demartini Marina Demartini, de EXAME.com

São Paulo – Basta Claudia Trevisan aparentar cansaço para que sua filha Gabriela fique preocupada. A mãe de 55 anos sofre de esclerose múltipla, uma doença autoimune sem cura que tem como principais sintomas a dor crônica e a fadiga. “Quando ela está muito cansada, geralmente, é sinal de que ela pode ter um surto”, explica Gabriela.

Pós-doutora em ciências biológicas pela Universidade do Arizona, nos EUA, Trevisan se especializou em farmacologia da inflamação e da dor. Foi a presença constante da dor na vida da mãe que fez com que a filha entrasse em um ramo pouco estudado na ciência: os sintomas dolorosos relacionados à esclerose múltipla.

O ponto de partida de sua pesquisa é identificar se a proteína TRPA1, encontrada no sistema nervoso, pode ser ativada por radicais livres. Se isso for possível, a proteína irá causar dor de cabeça e também nas extremidades. “Sabendo disso, poderemos desenvolver analgésicos que bloqueariam a ação da TRPA1 e melhorariam a recuperação dos pacientes”, falou Trevisan.

Para realizar a pesquisa, a cientista irá aplicar radicais livres em camundongos com deleção gênica para o receptor TRPA1, uma mutação que faz com que o animal não sinta dores. Se eles ativarem a proteína, ela saberá que a TRPA1 está relacionada aos sintomas da esclerose múltipla e poderá utilizar remédios específicos.

Segundo a pesquisadora, como a ciência não sabe a origem da dor na esclerose múltipla, ainda não existem bloqueadores próprios para a doença. “Normalmente, médicos utilizam morfina para diminuir a dor. Porém, o problema dessa medicação é que ela causa dependência se usada constantemente.”

Por isso, caso o estudo mostre essa relação entre a enfermidade e a TRPA1, ela pretende usar fármacos que já foram identificados como antagonistas da proteína, como a dipirona e a propifenazona, para tratar pacientes. “Dessa forma não irá demorar anos para realizar a parte clínica da pesquisa, já que esses remédios já foram aprovados pela Anvisa.”

Apoio financeiro

O estudo de Trevisan foi um dos sete escolhidos para receber o prêmio “Para Mulheres na Ciência”, uma iniciativa conjunta de L’Oréal, Unesco e Academia Brasileira de Ciência de incentivo a cientistas mulheres. Cada uma das pesquisadoras irá receber uma bolsa-auxílio no valor de 50 mil reais para dar prosseguimento às suas pesquisas.

De acordo com dados do CNPq, um dos órgãos responsáveis pelo financiamento de pesquisas no Brasil, 76% dos cientistas de nível sênior que recebem bolsas de pesquisa no país são homens. Apesar disso, Trevisan conta que nunca sofreu preconceito por ser mulher. “Acredito que seja porque tem muito mais mulheres do que homens na minha área [farmácia].”

Mesmo assim, a pesquisadora aponta que há falta de incentivo para que cientistas realizem seus estudos no Brasil. “Muitos amigos meus foram fazer pós-doutorado fora do país e estão demorando anos para terminar, pois sabem que aqui não existe incentivo e, muito menos, trabalho.”

Para ela, o problema é que a maior parte do auxílio vem apenas do governo, como CNPq e Capes. “Fora do Brasil, a ajuda financeira vem geralmente de empresas privadas. Acredito que falta uma conversa entre as universidades e as indústrias para que as pesquisas sigam adiante.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário