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sábado, 20 de agosto de 2016

Psicóloga retrata em livro drama vivido por pessoas com deformidades da face


Um desses pacientes, com deformidade há mais de 30 anos, contou que viu sua vida desmoronar depois do acidente que levou dele também sua noiva e seu trabalho
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13/06/2016

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O sofrimento de pessoas com deformidades no rosto, que sobreviveram a traumas provocados por episódios violentos, foi abordado no livro Considerações Psicossociais sobre Deformidade Facial. A publicação, que será lançada dia 16 de junho, pela Paco Editorial, baseia-se em relatos de pessoas que sofreram acidentes de carros, armas de fogo, queimaduras, tombos ou violências domésticas, dentre outros.

De autoria da psicóloga Elaine Gomes dos Reis Alves, do Instituto de Psicologia (IP) da USP, a pesquisa foi feita durante quatro anos com pacientes do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). O livro trata dos aspectos psicológicos e sociais de pessoas que tiveram deformidades faciais e das dificuldades enfrentadas na adaptação de sua nova imagem pela perda de identidade, além do sofrimento com o tratamento, com a aceitação social e com os preconceitos.
Elaine acredita que a motivação para realizar sua pesquisa tenha vindo da experiência que teve em um acidente de carro que vitimou a própria família – mãe, irmã e sobrinho. A pesquisadora viveu de perto a desestruturação psicológica e o doloroso sofrimento de pessoas muito próximas a ela. Embora o episódio familiar tenha sido relembrado apenas quando sua tese estava quase finalizada, Elaine considerou o fato como o primeiro impulso de sua investigação. Ter vivido esta circunstância a levou a uma melhor compreensão do drama dos pacientes que fizeram parte de sua pesquisa.

Elaine Gomes dos Reis Alves, autora do livro "Considerações Psicossociais sobre Deformidade Facial"
Elaine Gomes dos Reis Alves, autora do livro “Considerações Psicossociais sobre Deformidade Facial” – Foto: Arquivo pessoal

Sendo a maioria vinda de outros Estados brasileiros, inclusive da Região Nordeste, pelo fato de o HC ser referência em tratamentos de traumatologia em todo o Brasil, os pacientes ouvidos pela pesquisa tinham um perfil heterogêneo: adultos, de idades variadas, que já haviam passado por diferentes fases do tratamento. Porém, segundo Elaine, os relatos de desalento e aflição eram muito semelhantes. Além do sofrimento pelas próprias deformidades da face, as pessoas teciam seus dramas a partir das angústias que estavam vivendo diariamente, que iam desde a impossibilidade de ter uma alimentação normal, ou de se comunicar verbalmente, passando pela dificuldade de beber água misturadas às babas, até as contínuas dores que passavam a fazer parte do dia a dia deles.
Um desses pacientes, com deformidade há mais de 30 anos, contou que viu sua vida desmoronar depois do acidente que levou dele também sua noiva e seu trabalho. Segundo Elaine, nem mesmo os profissionais de saúde que estão envolvidos no tratamento da parte física estão preparados para lidar com essa questão e nem podem imaginar a dimensão dos dramas vividos pelas pessoas que passam por tragédias pessoais dessa natureza.

A procura da identidade

Segundo Elaine, as vítimas de traumas perdem seu referencial e passam pelo estranhamento das pessoas à sua volta quando estas não mais as reconhecem pela deformidade do rosto. E o desapontamento tende a piorar quando o paciente é defrontado com sua imagem diante do espelho. As primeiras aparições refletidas, geralmente, são acometidas por ondas de pavor, medo, tristeza, perplexidade, vazio e insegurança, conta a pesquisadora, ao mesmo tempo em que a pessoa nutre o desejo de tentar voltar a ser o que era antes do acidente.
20160613_04_defofacialComo profissional da área de saúde mental, Elaine acredita que durante o tratamento, além de terem os cuidados convencionais, estes pacientes precisam de mais atenção e de serem mais ouvidos pelas equipes multidisciplinares do hospital. Sendo assim, eles passarão a ter uma melhor compreensão de sua nova identidade e se sentirão fortalecidos para ocuparem novamente seu lugar na sociedade, conclui.
O livro foi prefaciado por Maria Julia Kovács, especialista em luto e pesquisadora do IP, e comentado pelo bioeticista Danton Ramos. A leitura é recomendada para os mais variados públicos – profissionais de saúde – médicos, psicólogos, dentistas, fonoaudiólogos -, estudantes e familiares de acidentados. O conteúdo da publicação foi baseado na pesquisa de doutorado Pedaços de mim – o luto vivido por pessoas com deformidade facial adquirida pós-trauma bucomaxilomandibular e a interferência no seu desenvolvimento.

USP

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