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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Inspirador: mulher conta como se livrou de casamento abusivo arranjado por seus pais

A indiana Haritha Khandabattu teve que enfrentar os familiares e fugir do país para ter uma vida livre e feliz
ESCRITO POR
13/10/2016

O matrimônio continua sendo um costume sagrado na Índia, alimentando a prática dos casamentos arranjados. Pressionados por pais e outros familiares, os jovens se veem obrigados a se relacionar com pessoas que muitas vezes desconhecem. Quem mais sofre com esta pressão são as mulheres, obrigadas a se submeter ao marido e às suas vontades, tanto pelo forte machismo presente na sociedade, quanto pela violência empregada dentro de casa. Os casos de estupros maritais e ataques com ácido, por exemplo, se multiplicam aos milhares no país. Muitas mulheres têm se levantando contra esses costumes opressores, mudando suas vidas e servindo de exemplo para tantas outras dentro e fora da Índia. Haritha Khandabattu é uma delas. A jovem teve que enfrentar os familiares e fugir do país para ter uma vida livre e feliz. Seu depoimento foi publicado na página do Facebook Humans of Amsterdam, que divulga história inspiradoras de moradores da cidade holandesa.

Haritha conta que não pensava em se casar, queria focar na sua carreira de engenharia, mas seus pais a pressionavam. "Lentamente a atmosfera em casa foi mudando e meu pai quase não falava mais comigo. A tensão ficou tão insuportável que chegou a um ponto em que eu não podia mais suportar, eu desisti. Acabei casando com um homem que eu desconhecia e não amava. Honestamente, eu não me lembro do dia do meu casamento. Quando eu olho para as fotos, eu não me reconheço".

A moça foi morar na casa da família do marido e foi forçada a dar o seu salário para os sogros. "Meu marido se mostrou tão controlador quanto meus sogros. Ele checava meu celular a toda hora e me acusava repetidamente de estar traindo ele. A situação ficava pior a cada dia". Haritha trabalhava como engenheira de software para a Nike e se entregou ao trabalho que tanto gostava, mas chegar tarde em casa era sinônimo de mais acusações do marido. "Era humilhante". 

Durante um ano e meio, ela tentou melhorar a relação entre os dois, apostando até em viagens para outros países para que o marido pudesse abrir a cabeça. Mas a situação não mudou. Um dia Haritha perguntou ao chefe se poderia ser transferida para outro país. Ele respondeu que havia uma vaga em Amsterdam. Ela aceitou na hora. "Eu comecei meu trabalho e fiz muitos amigos. Um dia fui a um evento com mulheres do mundo todo que contaram sobre suas experiências de abuso físico e psicológico. Todas aquelas mulheres saíram de situações piores que a minha e me fizeram sentir mais forte. Quando cheguei em casa, peguei o telefone e liguei para o meu marido e disse: 'Não há nada que você possa fazer para que eu mude de ideia, eu quero o divórcio'. Nunca na minha vida eu tive tanta certeza".

Mas Haritha ainda não estava livre. Ela voltou para a Índia para cuidar do processo de separação e não foi bem recebida pelos familiares e parentes do marido. Em reunião na casa do marido, todos tentavam convencê-la a não prosseguir com o divórcio. "Aquilo prosseguiu por horas e horas, e eu fiquei tão exausta que precisava dormir. Naquela noite eu dormi na casa dele e, só de estar lá, recordava como os meses em que passei lá foram horríveis. Quando acordei, percebi que a minha mala com meu passaporte, telefone celular e cartões de crédito tinham sumido. Eu entrei em pânico".  A família do marido negou ter algo a ver com o sumiço e Haritha teve de pedir ao chefe mais tempo para resolver a situação (sem contar a ele o que realmente tinha acontecido). "Para ter um novo passaporte na Índia demora pelo menos 3 meses e é preciso da assinatura do pai ou do marido. Eu nunca me senti tão sem esperança em todo a minha vida, mas eu não desistiria". 

Com a ajuda da irmã, a moça conseguiu fugir da casa dos sogros. Bem arrumada, conseguiu entrar em um prédio governamental e disse que tinha perdido a mala com o passaporte em um shopping e precisava voltar imediatamente para Amsterdam. "Eu queria ser honesta, mas não podia falar a verdade". Com uma carta de recomendação, Haritha conseguiu também uma hora marcada no escritório responsável pelos passaportes. "Eu sentei lá por 10 horas e quando foi a minha vez, me disseram que eu precisava da assinatura do meu pai ou do meu marido. De novo, eu menti e disse que eles estavam fora do país. Acabei convencendo a atendente e recebi uma aprovação. Se eu tivesse sido honesta, nunca teria conseguido".

Com o passaporte em mãos, a jovem entrou em contato com a embaixada holandesa em Amsterdam para explicar a situação e conseguir a permissão de residência na Holanda. "Eu tinha que voar para Nova Délhi, que é do outro lado do país. Eu estava ficando sem dinheiro mas por acaso tinha uma promoção rolando e eu consegui comprar uma passagem de avião barata. Eu consegui a permissão no dia seguinte e imediatamente comprei uma passagem para Amsterdam, foi um milagre. Durante todo o tempo eu tive medo. Medo de que alguém me reconheceria e que eu seria mandada de volta para a casa do meu marido". 

Haritha tinha se ausentado do trabalho por 45 dias e, por isso, perdeu o emprego. "Eu podia ter contratado um advogado e lutado, mas eu precisava de paz. Eles não sabiam o que tinha acontecido comigo então eu não podia ficar brava com eles. Eu não estava com medo ou triste, eu nunca me senti tão forte na vida. Depois de tudo o que eu passei I sabia que eu poderia lidar com qualquer situação". Depois de 17 dias, ela achou um novo emprego. "Infelizmente, eu ainda não sou divorciada mas eu nunca mais vou voltar para a Índia. Eu ainda falo com meus pais mas acho muito difícil confiar neles. Eu trabalho como uma engenheira de software em uma companhia de prestígio e sou feliz". 

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