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domingo, 22 de janeiro de 2017

Cinco minutos com Marina Willer, a rainha brasileira dos logos mundiais

É a única mulher sócia do escritório central da Pentagram, em Londres: seus trabalhos refletem a cor e a vitalidade de seu caráter


MARÍA HERVÁS
22 JAN 2017

Soam os acordes da bossa nova enquanto Marina Willer toma um café com leite e mordisca um croissant do buffet livre em um hotel lisboeta. As canções de João Gilberto fazem com que a designer, autora de logos tão simbólicos como o do museu Tate Modern, se sinta “mais perto do Brasil”. Willer cresceu em Curitiba, no sul do país, mas foi Londres a cidade em que conquistou o título de primeira sócia do escritório central da Pentagram. A consultoria de design gráfico mais prestigiada e influente do mundo tem 21 sócios distribuídos por diferentes sucursais internacionais, mas só quatro são mulheres. Willer é a única na sede da capital britânica.

“Tenho muita sorte. A Pentagram é uma agência independente onde o trabalho é concebido artesanalmente”, explica esta enérgica criadora de 51 anos, sentada em uma poltrona de couro branco que contrasta com o azul anil do vestido que exibe esta manhã e que deixa entreve sua musculosa figura. São nove da manhã e seus olhos castanhos delatam a falta de sono. Chegou de madrugada a Lisboa para dar uma palestra no Web Summit, a cúpula internacional sobre tecnologia realizada no início de novembro na capital portuguesa. Em sua conferência falou sobre como a falta de liberdade e de diversidade afeta o design. “Decisões como a do Brexit repercutem em meu trabalho”, explicou. “A criatividade só flui em espaços multiculturais, cosmopolitas, não em sociedades fechadas.” Ela não demora a dar sua bem-sucedida trajetória como exemplo.

Aos 28 anos deixou uma promissora carreira de publicitária em São Paulo para estudar design gráfico e cinema na Royal College of Art. Nas aulas desta conceituada universidade londrina aprendeu a ver seu trabalho como uma forma de vida, um “jeito contínuo de experimentar, de se pôr à prova”. Seguindo esse método encarou um de seus principais projetos: o design da identidade da Tate Modern. Até chegar ao original logo, Willer instalou em uma sala vários projetores que reproduziam a palavra Tate que ela mesma havia filmado. Depois fotografava aquelas imagens de diferentes ângulos. “Passei semanas interagindo com essas fotos, justapondo-as e comparando-as...” O resultado são letras coloridas que vão mudando de forma e cor continuamente. Passaram-se 16 anos e o museu de arte moderna continua se identificando com a criação de Willer.

As obras da designer, filha de um arquiteto judeu de origem tcheca e de uma artista francesa, jogam com a simplicidade e a cor. O que ela pretende é que “qualquer pessoa reconheça a mensagem”. Esse caráter universal de seus designs foi o que, segundo ela, atraiu a Anistia Internacional. “Eles buscavam uniformizar sua identidade, e me ocorreu criar uma linguagem própria que poderiam utilizar em todas as suas campanhas. Essa linguagem seria a da urgência”, diz.

Então ela se valeu de uma tipografia simples e da cor amarela com a qual a ONG é identificada para formular frases curtas que captaram a atenção. Por exemplo, Stop human trafficking para denunciar o tráfico de pessoas. Quando a criadora termina o café, começa a tocar Garota de Ipanema. “O Brasil me inspira muito, sabe? Sua luz, a mestiçagem, sua vitalidade”, diz, deixando escapar um sorriso. “Mas Londres é a autêntica capital do design”, sentencia.

Nos dias em que a cidade do Tâmisa amanhece sem chuva, Willer vai de bicicleta de sua casa, no luxuoso bairro de Kensington, até o escritório da Pentagram, perto de Nothing Hill. Um percurso de meia hora no qual a artista tem tempo de observar a vida de uma cidade onde as ideias podem surgir em qualquer canto. “Nesta profissão é impossível se desconectar. Para ser um bom designer você tem de estar faminto de informação, de vida.” Ela também não recomenda trabalhar de modo isolado. “A época dos gênios já passou. Se você quer chegar longe tem que ter claro que a participação e a generosidade são básicos neste mundo globalizado.”

El País

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