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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Manchester à Beira-Mar quer mostrar a maior das nossas tristezas

Um filme muito bem feito e uma discussão bem importante permeiam Manchester by the Sea

Jader Pires

Quanta dor cabe dentro de um ser humano?
Manchester à Beira-Mar, longa escrito e dirigido pelo diretor, roteirista e dramaturgo nova iorquino Kenneth Lonergan (que escreveu os roteiros de Gangues de Nova Iorque e A Máfia Volta do Divã) vai nos guiar ao entendimento do comportamento niilista do zelador Lee Chandler, homem sem fala ou atenção no olhar que passa os dias trocando canos, consertando vazamentos, tirando a neve e botando o lixo pra fora num conjunto de prédios baratos em Boston, Massachusetts.
O abatimento estampado por uma interpretação muito bem feita pelo Casey Affleck é quase desesperador e vai nos dando a profundidade do trauma e do remorso, de uma vida que podemos chamar de despedaçada pelos acontecimentos do passado, esse danado que volta quando ele vai para Manchester, cidade pesqueira da costa leste dos Estados Unidos, preparar a burocracia da morte de seu irmão mais velho. É quando esse pretérito é posto em luz que vamos compreender a desistência e a interiorização de quase toda a existência dele.
Para dentro. A direção emprega esse olhar contido e de movimentos para dentro, de silêncios em vez de estouros, de diálogos secos ao invés de grandes falas de superação e esperança, de motivos e positividades. Uma vida triste não permite esse tipo de elocubração.
O drama vai girar em torno da dúvida de Lee em atender os pedidos de seu irmão em testamento, que quer ele seja tutor de seu filho de 16 anos e, com isso, voltar à sua cidade natal até que o garoto complete 21 anos.
Uma trama que tinha tudo para ser mais um clichê de aprendizados do mais velho com o mais novo e vice-versa, da retomada da alegria em meio ao problema, da prevalência do amor, da vontade de viver. Patrick (Lucas Hedger), seu sobrinho, é um garoto extremamente carismático e bem adaptado na cidade, tem duas namoradas e uma banda, está no time de hóquei no gelo e de basquete, tem um barco pesqueiro herdado de seu pai e não quer desistir fácil dessa vida repleta de otimismo.
Mas não pra Lonergan. O diretor emprega essa tristeza travestida de apatia quase todo o tempo, como se esforços e movimentos bruscos fossem sempre em vão. Tá tudo errado demais para continuar. Temos então a neve, a pouca gente, a trilha sonora carregada de um constante adeus. Em Manchester à Beira-Mar, a realidade é tão crua que não é nem celebrada. 
Apenas é.
Nota: o debate sobre a indicação de Casey Affleck, acusado de assédio sexual por duas colegas de trabalho em 2010, ao Oscar de melhor ator é bem válida, assim como a conversa sobre o tratamento diferente que recebeu Nate Parker e seu O Nascimento de Uma Nação, após uma acusação de estupro contra o diretor que rendeu o total de zero indicações ao Oscar desse ano. Vale a conversa, a discussão, e o aproveitar-se do momento para entender mais e acreditar em transformações possíveis.

publicado em 10 de Fevereiro de 2017

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