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domingo, 21 de maio de 2017

“Fui violentada na infância por quem mais deveria me proteger, meu pai”, relata vítima de abuso sexual

Neste Dia Nacional do Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes, os números comprovam a necessidade de uma mudança urgente: no último ano foram mais de 37 mil denúncias. Para jogar luz sobre o assunto, leitoras falam das cicatrizes que ainda carregam depois de anos

18.05.2017 | POR DANIELA CARASCO

Quando o assunto é violência sexual contra crianças e adolescentes, o cenário brasileiro é bárbaro e exige mudanças. Entre 2015 e 2016, mais de 37 mil casos foram denunciados por meio do Disque-100, segundo dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos. Considerando que nem todos os episódios chegam de fato ao conhecimento das autoridades, já que muitas vezes o autor da violência faz parte da família da vítima, os números podem ser ainda maiores.

A esperança de que seja apenas um caso isolado, agravada pela naturalização da violência nas relações familiares, torna esta realidade, que perpassa questões raciais e de classe, ainda mais brutal. Por isso, neste Dia Nacional do Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes, Marie Claire ouviu relatos de leitoras que já foram violentadas na infância e, anos depois, ainda vivem à sombra de um abuso que deixa marcas profundas. Cabe à sociedade a responsabilidade de se sensibilizar e contribuir para o combate.

“Aos 5 anos, me tornei vítima do meu avô materno. Os abusos aconteciam dentro de casa, enquanto minha avó estava envolvida com os afazeres domésticos. Ele me acariciava e me fazia tocar suas partes íntimas. Com medo de ser descoberta e culpada por aquilo, atendia aos seus pedidos. Ele nem se envergonhava. Como defesa, me fazia acreditar que aquilo era um carinho normal. Foram quatro anos de abusos, que me transformaram em uma adolescente promíscua. Entrei em depressão, tentei me matar diversas vezes. Por muitos anos, culpei a minha avó por não ter percebido nada. ‘Por que não me protegeu?’, eu me perguntava. Mas no fundo, a culpa era de uma só pessoa: dele. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, era muito pequena e cheguei a pensar que era responsável por aquela violência. Vivo à sombra deste fantasma até hoje. Só consegui me abrir sobre o assunto com a minha irmã, que suspeita ter passado por algo parecido, mas não se recorda com exatidão, e com o meu pai em seu leito de morte. Para poupar minha mãe, nunca contei nada a ela. Hoje, tenho 40 anos e ainda choro toda vez que lembro de tudo. Me arrependo de não ter gritado.” – PM

“Fui violentada na infância por quem mais deveria me proteger, meu pai. Sinto um misto de nojo e vergonha até hoje ao lembrar. Assim que minha mãe saia para trabalhar, ele me chamava para a cama dele, onde me alisava e me obrigava a acariciá-lo. De meu herói, ele se transformou em meu pior pesadelo. Anos depois, virei vítima do meu tio, irmão dele. Sofro até hoje com essas lembranças. Nunca senti prazer em nenhum relacionamento. A violência me travou. Levo uma vida cheia de angústia, que vou carregar pra sempre comigo.” – JG

“Fui abusada diversas vezes quando criança e por pior que seja dizer isso, comecei a achar que se tratava de algo natural. Cheguei a pensar que era uma maneira de me tornar mulher. O abuso que mais me marcou aconteceu aos 9 anos. Meu vizinho me violentou. Ele tinha dois filhos, com quem eu e minha irmã adorávamos brincar. Mas toda vez que íamos à casa dele, ele deixava os três assistindo filme e dizia que comigo ia ser mais especial. Me levava para outro quarto, me mostrava revistas masculinas e me forçava a masturbá-lo. Minha vontade era de fugir, mas o medo de alguém descobrir algo me impedia. Só me dei conta de tudo o que passei aos 20 anos. Hoje, aos 30, sinto náusea só de lembrar. Essa situação toda fez despertar muito cedo o meu desejo sexual, assim como me tornou uma pessoa muito desconfiada. Quando adulta procurei tratamento psicológico para me livrar dessa angústia. Sempre achei que era eu quem tinha feito algo errado.” – FV

“Eu tinha 8 anos e estudava em uma escola particular, que havia contratado há pouco um novo funcionário. Ele era simpático e querido por todos. Até que um dia, por conta do trânsito, meus pais demoraram a me buscar. Fiquei sob os cuidados dele até que pudesse ir embora. O prédio passava por uma reforma e ele imediatamente me convidou para conferir como é que estava ficando o novo terraço. Inocente, eu fui. Assim que chegamos, ele começou a me encher de elogios, que logo se transformaram em carícias. Travei. Não sabia lidar com o que estava acontecendo, não tinha nem noção do que era aquilo. Quando ele colocou a minha mão nas partes íntimas dele, pedi para que parasse. Ele aceitou, mas me pediu segredo. ‘Suas amigas vão achar que eu gosto mais de você do que delas’, chegou a dizer. Fingi esquecer o que houve, ele também nunca mais tocou no assunto e nem tentou novamente. Reprimi essa memória durante anos. Hoje, 15 anos depois, me arrependo amargamente de não ter contado a ninguém.” - PL

A exploração sexual de menores torna o combate ainda mais necessário. Comandado por Luciana Temer, o Instituto Liberta, desde janeiro se dedica a lutar por essa causa. Segundo ela, o objetivo principal da instituição é "mudar a mentalidade do brasileiro em relação à prostituição infantil". "Acabei de voltar do Pará, onde fui investigar a situação da exploração de crianças em balsas nos rios. A denúncia é a de que os próprios pais as entregam aos barqueiros que, durante a noite, as estupram e depois entregam 'a conta' para o pai, que cobra pelo serviço", contou em entrevista à Marie Claire.

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