Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

domingo, 18 de junho de 2017

Ana Cañas: ninguém me cala

por Pedro Alexandre Sanches — publicado 18/06/2017
Cantora e compositora reúne 86 mulheres num grito musical coletivo por respeito ao sexo feminino
Natália Britos
Ana Cañas
'Respeita aí, eu sou mulher', canta em tempo de rap a compositora e atriz paulistana
Publicado no YouTube em 13 de maio, dia de abolições, o videoclipe Respeita, da compositora, cantora e atriz paulistana Ana Cañas, nasce como um marco da música brasileira moderna que tem o que dizer e sabe como fazê-lo.
Você que pensa que pode dizer o que quiser/ respeita aí, eu sou mulher, canta Ana, de 36 anos, em algum ponto entre o rock-n’-roll, a dance music de Fernanda Abreu e o hip-hop no feminino. Desrespeitada, ignorada, assediada, explorada/ mutilada, destratada, reprimida, explorada/ mas a luz não se apaga/ digo o que sinto/ ninguém me cala, elas afirmam.
São elas que dizem, e não Ana solitariamente, porque o vídeo dirigido por Isadora Brant e João Wainer reúne 86 convidadas, desde a emblemática Maria da Penha (que originou e deu nome à lei de combate à violência doméstica contra a mulher), passando por Carmen Silva (da Frente de Luta por Moradia), Eliane Dias (esposa e empresária de Mano Brown), as compositoras Karina Buhr e Zélia Duncan, a cacique Márcia Djeramirim, a psicanalista Maria Rita Kehl, a atriz Mariana Lima, a apresentadora de tevê Roberta Martinelli… 
“Levei 20 anos para conseguir falar sobre isso de forma direta, exorcizando mesmo”, conta Ana, que diz ter se inspirado no hip-hop e naquilo que representasse sua própria “quebrada”: o assédio. “Sou vítima de assédio e essa dor permeou toda a minha vida, desde então”, afirma.
A artista e os diretores propuseram às participantes um exercício em que elas fechassem os olhos e puxassem da memória situações em que foram vítimas de machismo, assédio ou inferiorização. Quando prontas, deveriam abrir os olhos e comunicar o que sentiam para a câmera, apenas com o olhar.
Diversas  surgem no vídeo com o rosto livre para as lágrimas, como a rapper Jackie Brown, Monique Evelle (do movimento Desabafo Social) e a atriz Nathália Dill. Outras cantam os versos fortes de Respeita (ninguém viu, ninguém vê, ninguém quer saber/ a dor é sua, a culpa não é sua/ mas ninguém vai te dizer), num grito grupal de que é coletiva e uníssona a voz levantada de Ana Cañas.
“Ana pagou do próprio bolso o que ela podia para a gente viabilizar e fazer acontecer”, narra o codiretor João Wainer. “Esse assunto está à flor da pele, então as pessoas foram percebendo que é um momento importante e que todo mundo precisa se posicionar. Muita gente legal foi comprando a briga, tanto mulheres quanto homens, e chegando junto para fazer um clipe que também fosse um manifesto.”
Mulher-síntese, Elza Soares fornece a imagem final do vídeo, oferecendo os lábios para pronunciar a última palavra dos dizeres “respeita as mina, porra!” Ana resume, em uma frase, a necessidade e a urgência que geraram Respeita: “É  preciso, cada vez mais, abordarmos com franqueza e clareza nossos monstros, enxergar as hipocrisias, exorcizar os medos, jogar luz sobre a igualdade e o respeito, que são a base e o alicerce de toda – e, ultimamente, urgente – democracia”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário