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quinta-feira, 29 de junho de 2017

Uma psicóloga no lugar certo

Maria Alice da Cruz estreia sua coluna sobre perfis de alunos e funcionários negros da Unicamp

SEG, 26 JUN 2017



Ilustração: Luppa SilvaOs olhos espertos da menina Renata Cristina Augusto Cardozo radiografavam o jovem campus universitário de Barão Geraldo, onde sua mãe, Nadir Augusto Cardoso, trabalhava. Estavam na década de 1970, momento em que a profissionalização ainda era privilégio de poucos brasileiros de família negra, mas a menina transportou seu sonho para a juventude, até se tornar a psicóloga Renata Cardozo, em 1998. “A Unicamp foi o lugar onde pude olhar para mim e descobrir que tinha potencial profissional, porque naquela época, como a maioria das famílias negras do Brasil, era normal acreditar que o único ambiente de trabalho para nós era a ‘casa de família’. Era o momento em que grande parte da comunidade negra deixava de trabalhar na casa dos outros para procurar uma carreira profissional, por meio das entidades como Guardinha e Patrulheiros.” Com este pensamento, incumbiu a mãe de buscar um local na Unicamp em que pudesse trabalhar.
Protagonista de uma das muitas histórias escondidas na vasta produção da Unicamp, a psicóloga da Prefeitura do Campus acredita ter estreado no mundo do trabalho no lugar certo, em 1984, aos 14 anos, num espaço de debate e reivindicações: o Diretório Central de Estudantes (DCE). Naquele momento, se confirmou o desejo pela psicologia. “Ali, pude olhar para mim e ao redor e descobrir meu potencial profissional. No DCE, descobri, também, que já havia um conjunto de pautas de reivindicações estudantis, onde pude começar a olhar sobre a questão racial, e isso foi importante no processo de construção de minha identidade”, recorda.
Naquele momento, o olhar de futura psicóloga projetou-se também para o ambiente externo à universidade. Engajou-se ainda jovem no movimento negro, onde encontrou as amigas da Casa Laudelina, uma frente feminina que exerce um trabalho social importante em Campinas. Nestas veredas do bem-fazer, a psicóloga passou a integrar também o projeto Promotoras Legais Populares, tocado por pessoas de vários segmentos sociais unidas no debate e no combate à violência contra a mulher.

Foto: Antonio Scarpinetti
Renata Cristina Augusto Cardozo: “A Unicamp foi o lugar onde pude olhar para mim e descobrir que tinha potencial profissional”

Psicóloga organizacional, no início dos anos 2000, em parceria com a Diretoria Geral de Recursos Humanos (DGRH) da Unicamp, Renata Cardozo desenvolveu ações para reduzir o desgaste físico de um grupo de profissionais da área operacional da Prefeitura do Campus, por meio de remanejamentos e acolhimento. “Havia um contingente operacional grande na Prefeitura do Campus, onde atuei como psicóloga. O tempo de permanência e a idade fazem com que algumas atividades se tornem pesadas e precisamos realocar os funcionários, porém a mudança de uma função com a qual está acostumado para outra tem de ser feita de forma positiva”, declara. Antes de chegar à Prefeitura do Campus, ela atuou também na área administrativa do Núcleo de Estudos Psicológicos (NEP) e no Parque Botânico.
Nestes 33 anos de dedicação à Universidade, é impossível não construir seu próprio pensamento crítico e, no caso de Renata Cardozo, com fundamento na literatura e na observação do comportamento humano. Atualmente, concilia as atividades na Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC) – onde atua como empréstimo – com a participação no Fórum de Integração Cultural Afro-brasileira da Unicamp (Ficafro), espaço de troca entre profissionais negros da Universidade para levantamento de iniciativas, trabalhos e pesquisas que abordem questões raciais.
Um dos temas pertinentes no Ficafro é a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, criada pela Portaria nº 992, de 13 de maio de 2009, do Ministério da Saúde. Segundo Renata, trata-se de uma política transversal que visa à promoção da saúde integral da população negra, priorizando a redução das desigualdades étnico-raciais, o combate ao racismo e a discriminação nas instituições e serviços do Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo a psicóloga, os resultados estimularam a realização da Feira de Mobilização Pró-Saúde da População Negra da Unicamp, realizada em outubro 2014 e 2015, a fim de oferecer prevenção e esclarecer sobre a prevalência de algumas doenças nesta etnia, entre elas pressão alta, diabetes, triglicérides e anemia falciforme. “O primordial desta política é a autodeclaração. Isso é importante para prevenção.”
Renata acredita que a Unicamp precisa estabelecer critérios reais de oportunidade para todos. “A Universidade precisa permitir que os funcionários trabalhem, se desenvolvam e cresçam; tenham a possibilidade de, ao longo da sua trajetória profissional, construir uma carreira. Que o racismo não seja motivo para um profissional ser colocado de lado”.
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Foto: Antonio ScarpinettiMaria Alice da Cruz é especialista em jornalismo científico pela Unicamp. Graduou-se em jornalismo pela PUC-Campinas e estudou produção e direção de TV e cinema na Escola de Formação de Cinema e TV, em Sousas. Atualmente, trabalha na Secretaria de Comunicação da Unicamp e é membro do Pacto Universitário de Educação em Direitos Humanos. É coautora do livro “Faço Parte Desta História 2”. Foi revisora, redatora web e assinou crônicas no jornal Correio Popular, de Campinas. Foi repórter do Jornal da Unicamp. Esta coluna revela aspectos da contribuição de alunos e servidores negros ao longo da história da Unicamp.

Unicamp

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