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terça-feira, 17 de outubro de 2017

As musas e o machista sem-vergonha

Amauri Segalla

29.set.17
Morreu na semana passada Hugh Hefner, o homem que criou a revista Playboy. Hefner lançou a publicação por vingança. Depois de ser traído pela namorada, ele decidiu que, a partir daí, teria tantas mulheres quanto fosse possível. Construiu um império, morou numa mansão com garotas que ficavam a maior parte do tempo de biquíni e, afinal, levou para a cama a maioria delas. Hefner foi o símbolo universal do macho-alfa-pegador que enxerga as fêmeas apenas pelo movimento dos quadris. Com a morte dele, desaparece não apenas um ícone do mercado editorial, mas um tipo de sujeito que caminha para a extinção: o machista sem-vergonha.

A internet serve para muitas coisas, inclusive para remoer as tolices que fizemos algum dia. Antes de preparar este texto, eu estava procurando reportagens que escrevi e me deparei com uma aberração. Há 20 anos, publiquei em uma grande revista um artigo sobre a evolução do futebol feminino brasileiro. O trabalho não tinha nada de especial — era bem mais ou menos, para dizer a verdade —, mas fiquei envergonhado por outro motivo. Para ilustrar o artigo, eu e a equipe de arte daquela revista optamos por um ensaio fotográfico com modelos. Em vez de produzir retratos das jogadoras de verdade, preferimos contratar mulheres tão íntimas do futebol quanto Messi do balé Bolshoi.
As garotas apareciam nas páginas com pouca roupa. Era uma tentativa grosseira de fisgar a atenção dos leitores com imagens “sensuais” das meninas. E isso em uma revista que tinha a pretensão de fazer reportagens sérias. Hoje em dia, material desse tipo provocaria justíssima reação nas redes sociais. Felizmente, nós, jornalistas, estamos mais atentos, mas persistem algumas anomalias. Basta ver um programa na TV para ouvir um apresentador chamar uma atleta qualquer de “musa”, uma atriz de novela de “beldade”. Leia as notícias na internet e você verá, ao lado do relato do desempenho de seu time favorito, uma mulher pelada pedindo o voto de “gostosa da torcida” para os sedentos internautas. Não basta para uma atleta ser campeã, não é suficiente para uma atriz ser uma intérprete de alto nível. Muitos de nós, jornalistas, ainda temos o hábito de tratá-las pelo viés do ordinário machismo. O mesmo machismo que consagrou e tornou bilionário alguém como Hefner.
Aprendi, com o passar dos anos, que isso não é certo.

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