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segunda-feira, 30 de outubro de 2017

“Brasil e São Paulo desiguais: são as mulheres que mais sofrem”, diz Alexandre Padilha

Dados do Mapa da Desigualdade mostram o percentual de gravidez na adolescência entre mães negras e não negras, além de exames de pré-natal insuficientes entre negras e não negras de cada região; bairros periféricos possuem números mais alarmantes.
Por Alexandre Padilha*
26 de outubro de 2017
Nesta semana, tivemos notícias significativas a respeito da posição das mulheres em nossa sociedade. Uma delas, a mais preocupante, vem dos dados do Mapa da Desigualdade, apresentado pela Rede Nossa São Paulo, nesta terça-feira (24), que trouxe o percentual de gravidez na adolescência entre mães negras e não negras, além de exames de pré-natal insuficientes entre negros e não negros de cada bairro. O resultado mostrou que os bairros mais periféricos da cidade possuem dados mais alarmantes.
De acordo com o estudo, dos 96 distritos da cidade, 52 mostraram valor maior que dez no número de mulheres grávidas na adolescência. O “desigualtômetro” é 25,79 vezes, do total de nascidos vivos de mães residentes da capital. Os distritos com maiores números são: Guaianases (16,81), Brasilândia (16,89), São Miguel Paulista (17,03), Cidade Tiradentes (18,07) e Marsilac (22,88).

O número de grávidas na adolescência, entre mães negras e não negras, é ainda mais preocupante, sendo três vezes maior: o valor 1 significa igualdade. O valor 1,90 significa que 90% dos casos de gravidez na adolescência são de mulheres negras. Vinte e um dos distritos – periféricos, mais uma vez – possuem dados maiores que 1,90: Campo Belo (2,33), Cidade Ademar (2,47), Vila Mariana (2,83) e Jardim Ângela (3).

Na relação do pré-natal insuficiente, entre negros e não negros, a desigualdade é cerca de oito vezes maior. Sete distritos apresentam número menor ou igual a 1 – sendo que o valor 1 significa igualdade e o valor 1,90 representa que 90% dos casos de pré-natal insuficiente entre negros e não negros, como: Marsilac (0,635), Pari (0,882), Anhanguera (0,885), São Miguel Paulista (0,937), Pedreira (0,955), Limão (1) e Cidade Tiradentes (1).

As mulheres negras grávidas que vivem na periferia ocupam a posição de maior desigualdade na cidade, apesar da variação dos indicadores de 2013 a 2016 terem apresentado melhora: gravidez na adolescência (45,21/26,22) e pré-natal insuficiente (16,15/8,08).

Em síntese, é a desigualdade e não a política que divide o Brasil. Só é possível unir nossa cidade e nosso país com um compromisso explícito com a redução da desigualdade. E as mulheres sofrem duplamente com ela: são vítimas da desigualdade social, falta de oportunidades, de acesso, e com o machismo, que perpassa em todas as classes sociais, e faz com que elas sofram ainda mais.

Ainda nesta semana, também tivemos dois fatos que mostraram que precisamos de coragem e de ousadia para enfrentar tal situação.
Uma, foi a vitória árdua, em segunda instância, da ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres da presidenta Dilma, Eleonora Menicucci, no processo contra Alexandre Frota, que alegou que a ex-ministra tinha se referido a ele como alguém que faz apologia ao estupro depois do próprio ter afirmado ter tido relação sexual com uma mãe de santo, sem o consentimento dela. Frota revelou o ocorrido em um programa de televisão com muito sarcasmo e naturalidade.
A vitória neste processo não foi apenas de Eleonora, mas, sim, de todas as mulheres do nosso país. Vitória contra a misoginia e a cultura do estupro. É desesperador saber que há pessoas que se vangloriam de situações como essa, e ainda acham que ficam impunes a tudo. Para confirmar o ser humano desprezível que é, Alexandre Frota ainda agrediu mulheres que realizavam um ato em solidariedade a Eleonora no fórum onde o caso estava sendo julgado.
A outra notícia foi a celebração da realização de mil partos na Casa Angela, Centro de Parto Humanizado, localizado na periferia da zona sul, exatamente em uma das regiões onde a pesquisa da Rede Nossa São Paulo apontou grandes desigualdades, em especial para as mulheres.
A Casa Angela tem uma história emocionante com a comunidade no Jardim Monte Azul. Idealizada pela parteira alemã Angela Gehrke da Silva, amparava as mulheres grávidas, do parto ao puerpério, da comunidade e de bairros adjacentes no parto natural e humanizado, onde realizou, de 1983 a 1998, 1.500 partos. A Casa teve que fechar as portas durante um período, mas graças à tradição e aos profissionais comprometidos com a causa, reabriu com ajuda de parceiros internacionais.
A princípio, a Casa atendia apenas casos particulares e concedia descontos de acordo com critérios estabelecidos para as mulheres que desejavam conceber no serviço. Mas a luta para que fosse “Uma Casa de Todos” – principalmente para as mulheres que não possuem condições de pagar pelo parto – veio em 2015, na gestão do prefeito Fernando Haddad, quando era secretário da saúde e assinamos o convênio de R$ 2 milhões para que, finalmente, a Casa atendesse as usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS).

Este convênio com a Prefeitura estabelece que sejam feitos até 30 partos, 100% SUS, no serviço, que era a necessidade no momento da assinatura do convênio. Hoje, a Casa precisa de um repasse maior, está fazendo mais partos e a atual gestão da Prefeitura não se solidariza com a causa.

Os desafios da cidade de São Paulo são enormes e é realmente triste assistirmos a um prefeito que, de um lado, abdicou de governá-la e, do outro, não tem a menor sensibilidade para enfrentar tamanha desigualdade.
Quando digo que abdicou de governá-la é poque está explícito na decisão da gestão de fechar cerca de 100 unidades de saúde da cidade. Na semana passada, aconteceu um ato em Itaquera, onde a gestão anunciou o fechamento de oito das dez unidades de Assistência Médica Ambulatorial (AMA), uma das regiões mais carentes na área da saúde. A gestão alega que vai abrir Unidades de Pronto Atendimento (UPA) no local onde essas unidades serão fechadas. Mas, até outubro, não houve abertura de licitação para a construção dessas novas unidades, caminhando com os fechamentos dos serviços.
Estamos chegando ao final do primeiro ano de gestão e está mais do que claro que Doria não tem capacidade de governar uma cidade como São Paulo e a menor condição de governar o Brasil.
*Alexandre Padilha é médico, foi secretário municipal da saúde na gestão de Fernando Haddad e ministro nas gestões Lula e Dilma

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