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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Homens ricos conservadores e religiosos têm os casamentos mais felizes dos Estados Unidos

A descrição quase perfeita de Donald Trump parece ser a combinação mais adequada para ter um casamento feliz na 'América'
17 de Outubro de 2017
Redação PdH
Há alguns dias quando publicamos um artigo falando sobre o impacto que o desemprego (especialmente dos homens) tem no desenvolvimento de um casamento, a discussão na nossa caixa de comentários foi longe. Alimentada por pessoas com pontos de vista diferentes entre si, percebemos que tocar nesse assunto mexe com as emoções das pessoas e não faltaram relatos de quem já passou por algo parecido na vida.
Foi na esteira dessa polêmica toda que resolvemos investigar mais profundamente o impacto que o dinheiro (ou a falta dele) tem nos relacionamentos. No meio dessa pesquisa toda encontramos esse outro artigo publicado pela Bloomberg no Medium e assinado por Ben Steverman.

O repórter entrevistou o professor de sociologia da Universidade de Maryland, Philip Cohen, que publicou uma análise sobre o assunto a partir da General Social Survey, uma espécie de censo realizado nos Estados Unidos onde as pessoas são entrevistadas pessoalmente e respondem a um longo questionário que vai ajudar a dar uma ideia de como a sociedade americana pensa e se comporta.
Ao analisar os dados sobre o casamento, o sociólogo não se surpreendeu ao perceber que o número total de matrimônios vem diminuindo, ao mesmo tempo em que a média de idade com que as pessoas se casam vem aumentando com o passar do tempo e que o percentual de casamentos que terminam em divórcio continua alto.
Todos esses fatores, já confirmados em pesquisas anteriores, porém, não estão sendo suficientes para impactar positivamente no, digamos, nível de satisfação dos relacionamentos que perduram. Enquanto no começo da década de 1970, 68% se diziam "muito felizes" enquanto casados, hoje esse percentual caiu para 60%.
Percentual de pessoas que se declaram muito felizes é o mais baixo desde o começo do estudo. Não é exagero dizer que nunca tantas pessoas estiveram insatisfeitas com seus casamentos.
O mais interessante da análise feita, porém, está nos motivos e nos recortes que culminaram nesses dados. Principalmente se reunirmos as características dos grupos que se disseram mais felizes com o casamento.
Em primeiro lugar, os homens americanos são mais felizes (64,8%) nos casamentos do que as mulheres (60%).
Além disso, as pessoas mais religiosas se disseram mais felizes no casamento do que as menos religiosas. O nível de satisfação daqueles que vão a igreja mais de uma vez por semana (66,7%) é o mais alto entre todos os grupos incluindo aqueles que disseram que não vão a igreja (59,2%).
Já em relação à posição política, os indivíduos considerados ultra-conservadores são os casados mais felizes (68,5%) quando comparados com ultra-liberais (65,8%) e com os moderados (60,9%), por exemplo.
Somando os perfis, é possível afirmar que os homens religiosos e conservadores compõem o grup dos indivíduos que se declaram mais felizes no casamento.
Mas, como dissemos no começo do artigo, o fator 'dinheiro' também foi analisado pela pesquisa e especialmente quando se trata de classe social não houve conclusões mais evidentes do que essa: quanto mais alto você está na escala social, maior a chance de estar feliz no casamento.
O percentual sobe consideravelmente conforme as pessoas se declaram pertencentes de classes sociais mais altas. Lembrando que, ao contrário do Brasil, nesse estudo americano, a classe social é definida por autodeclaração e não pelo cálculo da renda familiar.
Com esses dados em mãos, o pesquisador considerado um dos maiores especialistas em casamentos do país resolveu buscar compreender os números e apresentar algumas hipóteses dessa fotografia da sociedade americana.

Homens, religiosos e conservadores mais satisfeitos que seus opostos

Em relação à diferenciação por gênero, o resultado pode ser explicado pelo mesmo motivo que faz com que os homens tomem menos vezes a atitude de romper um relacionamento do que as mulheres. Segundo um outro estudo recente, numa escala de 0 a 4, a 'média' que as mulheres deram para seus maridos foi de 2,99, enquanto a que eles deram pra elas foi maior: 3,2.
Essa pequena diferença se deve, segundo os pesquisadores, ao fato das mulheres, na média, terem uma tendência maior a confrontarem os problemas do casamento enquanto os homens são mais evasivos e ignoram os conflitos.
Amor, precisamos discutir a relação!
Além disso, esse estudo também notou que a diferença (gap) entre a avaliação dos homens e das mulheres por parte de seus parceiros tende a cair quanto mais novos eles são. O que pode representar duas coisas:
"Já que o casamento é uma instituição desigual de gênero, os maridos vão tirar mais proveito dele do que as esposas. Mas a redução dessa diferença em casais mais novos pode significar (1) que os casamentos estão se modernizando e fazendo com que homens e mulheres tenham funções mais equitativas ou, talvez, (2) essa diferença vá aumentando com o passar do tempo. Casamentos mais antigos tendem a ter problemas que os mais novos não tem. Aposentadoria pode colocar uma pressão extra na relação, por exemplo. Quando o casal para de trabalhar, eles vão ter mais tempo pra ficar um com outro, seja para o bem ou seja para o mal."
Jeffrey Stokes, professor de sociologia na Universidade Estadual de Illinois e autor do estudo publicado na Social Psychology Quarterly 
Já os motivos pelos quais pessoas religiosas estão mais satisfeitas com seus casamentos, segundo Cohen, é bastante instintivo: a maioria das religiões incentiva a monogamia, a instituição da família e a fidelidade.
Segundo o pesquisador, é um fator decisivo para a pesquisa o fato de que as religiões mais populares dos Estados Unidos não só aceitam a monogamia como única forma de ter um relacionamento como desaprovam o divórcio. No núcleo dessas comunidades, o assunto insatisfação familiar é, por vezes, um tabu e a pressão social faz com que as pessoas queiram se manter casadas por medo de serem rejeitadas pelo grupo que pertencem.
Por último, em relação às posições políticas, Cohen explica que dentro desse grupo "é mais provável que as pessoas encontrem parceiros que necessariamente concordem com elas em relação aos principais assuntos", ou seja, há menos flexibilidade em estabelecer relacionamentos com pessoas que pensam diferentes o que, de certo, evita conflitos no médio e longo prazo.

Ricos mais satisfeitos que pobres

Já a diferença em relação ao dinheiro, segundo os sociólogos, é uma questão bem mais complexa. Como nosso autor Eduardo Amuri, consultor financeiro, gosta de dizer, os problemas (nesse caso, soluções) relacionados ao dinheiro nunca são sobre dinheiro. A falta de dinheiro coloca em xeque conflitos que as pessoas preferem ignorar, mas que quando falta a grana, não tem como evitar. Nesse caso, a recíproca é verdadeira: o dinheiro ajuda casais a ignorar o que há de errado.
Segundo Cohen, as pessoas de classes sociais mais altas são consideravelmente menos estressadas. A diferença de 17 pontos na escala de 'satisfação' com o casamento dá indícios disso: "[os mais ricos] podem se dar ao luxo de tirar férias e comprar presentes para seus cônjuges". Sempre que há algo de errado, portanto, um presentinho ajuda a acalmar os ânimos e colocar panos quentes.
O pesquisador, porém, cita sua preocupação quando avalia que as classes mais baixas estão consideravelmente menos felizes do que a média da população. Outras pesquisas também sugerem que os americanos mais pobres têm dificuldade em se casar e se manter casados.
Um relatório emitido pela American Enterprise Institute demonstrou a grande diferença de casamentos por faixa de renda: enquanto apenas 25% das pessoas "pobres" entre 18 e 55 estão casadas atualmenteo percentual sobre para 39% quando são da "classe trabalhadora" e para 56% entre adultos da classe média e alta.
Segundo a pesquisadora da Universidade de Virgínia, Allison Pugh, as preocupações econômicas estão começando a minar as pretensões matrimoniais das pessoas. Pessoas com empregos inseguros geralmente dizem que estão resignadas a essa insegurança e elas vem agindo diferente daqueles que tem situações financeiras mais estáveis.
"Os americanos mais 'pobres' têm maiores - e mais rígidas - expectativas sobre seus parceiros. A precariedade do trabalho faz com que uma tensão extra recair sobre o relacionamento, especialmente enquanto eles não têm uma reserva financeira."
Allison Pugh, professora e pesquisadora da Universidade de Virgínia e autora do livro "The Tumbleweed Society: Working and Caring in an Age of Insecurity"

Outras hipóteses possíveis para a crise dos casamentos

Mas outros especialistas também apontam outros motivos pelos quais a sociedade americana está passando por crises conjugais e enfrentando níveis tão baixos de satisfação no casamento. Em matéria recente publicada pela revista Womens Health, dois médicos terapeutas de casal, ofereceram quatro hipóteses para explicar os números abaixo:
Casa-se pouco e continua divorciando-se tanto quanto antes, o que aumenta o percentual de divórcios do total de casamentos. Mas nos últimos anos, essa curva parece estar se estabilizando.

Falta de diálogo

"A falta de sexo, por exemplo, é uma parte inerente de quase todos os relacionamentos, mas muitos casais não têm conversas honestas sobre os problemas até chegarem às vésperas do divórcio. Esperar até lá, pode ser tarde demais. A monogamia é difícil. Seu impulso sexual não se preocupa com os limites socialmente construídos. Você deve estar disposto a balançar o barco no início do relacionamento, falar sobre isso a cada passo e fazer ajustes."
Chris Donaghue, Ph.D., terapeuta sexual e autora do livro Sex Outside the Lines
Resultado coletado pelo PapodeHomem em pesquisa nacional realizada em parceria com a ONU Mulheres.

Criação familiar

"O modelo dos relacionamentos está mudando. Eles estão deixando de ser centrados no indivíduo e passando a ser centrados no casal. Especialmente para os homens é um desafio fazer essa transição necessária do primeiro para o último, uma vez que você está entrando numa parceria para toda uma vida. Eles vêm sendo criados há décadas para pensar individualmente. Hoje em dia é preciso reconhecer que seu parceiro é um indivíduo separado, com seus próprios desejos e necessidades e que você também precisa pensar sobre como pode ser um complemento para a vida dele e vice-versa. É sobre estar no mesmo time junto."
Tom Murray, Ph.D. e terapeuta familiar e de casal.

Crises econômicas

"É preciso ter mais dados sobre o assunto para realmente chamá-lo de tendências, mas as crises geralmente podem aproximar as pessoas. Quando o dinheiro é apertado, você pode se concentrar mais nas experiências do que na acumulação de coisas. Por isso percebemos que os índices de satisfação com o casamento tiveram um grande aumento em meio a crise de 2008. Porém, quando a situação econômica começa a melhorar, as pessoas voltar a ter como foco ganhar mais dinheiro, o que criou um pico de felicidade por um momento, mas depois preparou o cenário para um estresse de longo prazo que coloca pressão sobre um relacionamento."
Tom Murray, Ph.D. e terapeuta familiar e de casal.

Oferta Tecnológica

"Sou fã da tecnologia, mas é claro que ela trouxe distorções para nosso comportamento social e em relação ao casamento não seria diferente. Nesse caso específico, a tecnologia trouxe para a relação o que chamo de 'perspectiva consumista'. É a tirania das muitas opções. Mesmo se você já é casado, você acessa o Facebook ou o Instagram e eles podem te fornecer o ideal consumista de que há algo melhor lá fora e você pode formar vários outros relacionamentos hipotéticos para comparar com o seu, o que faz os índices de satisfação caírem. É o que alguns chamam de FOMO (sigla em inglês para 'medo de estar perdendo algo')."
Chris Donaghue, Ph.D., terapeuta sexual e autora do livro Sex Outside the Lines
Como podemos notar, o assunto é complexo e existe bastante gente estudando isso, nos oferecendo informações para que possamos fugir das generalizações e ter um diálogo mais saudável não-sustentado apenas nos nossos pontos de vista pessoais.

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