Talvez não seja conhecimento de senso comum que a vida se processa em ciclos. Para além das fases de infância, adolescência, vida adulta, velhice, há etapas mais sutis em nosso desenvolvimento que escapam ao olhar incauto. Os místicos e esotéricos ressaltam que são ciclos que vivemos de nove em nove anos, onde precisamos apurar e lapidar aspectos obscuros ou ainda toscos de nossa personalidade; em última instância, sua função é propiciar o nosso desenvolvimento.
Ocorre, entretanto, que se nos falta muitas vezes uma percepção mais aguçada de si, que possibilite identificar os aspectos que precisamos trabalhar em nós mesmos, muito menos conseguimos estabelecer uma conexão com os fatos ou os desafios que a vida nos apresenta em nosso dia a dia, justamente para atender aquela finalidade.
É fundamental estar-se atento à sincronicidade na ordem das coisas. No funcionamento cósmico universal somos regidos por diversas leis como as de atração, ação e reação, progresso, etc..., e tudo que precisamos vem ao nosso encontro.
Para nossa infelicidade, deixamos “passar batido” oportunidades preciosas para o nosso desenvolvimento e não percebemos os sinais sutis que nos são apresentados, nossa “cegueira” funcionando então como um obstáculo ao desenvolvimento.
Estes sinais seriam pequenas mudanças que, silenciosas na sua manifestação, não fazem alvoroço e se depreendem do cenário como se sempre tivessem ali estado, mas na verdade vêm para demarcar o fim e ao mesmo tempo o início de um novo ciclo em nossas vidas. Assim, é importante saber buscar o sentido oculto das coisas. Nada está ali ou acontece por acaso.
Neste sentido, a intuição é uma importante ferramenta que nos auxilia a apreender que alguma coisa está mudando e o que isto significa ou vem anunciar. De repente, a partir de um pequeno estímulo, um conhecimento novo ou uma compreensão súbita da realidade assoma à nossa consciência. Não sabemos muito bem explicar de onde surgiu aquilo, apenas o reconhecimento de sua manifestação.
Junto com a intuição, a observação é outra ferramenta de extrema relevância. Observar a ordem dos fatos. Verificar se as mudanças que se anunciam seguem algum padrão ou regularidade em sua manifestação. São atitudes que nos ajudam a aprender sobre e apreender o elemento novo que se ergue sorrateiro.
A atitude mais comum, entretanto, é que sem perceber fechamos os canais de nossa intuição. Nossa atenção se dissipa. Ficamos distraídos. Desligamos o botão do observador. E a vida passa em brancas nuvens. Subitamente, somos acordados de nosso “sono” com algum fato estarrecedor ou uma grande tragédia em nossas vidas.
O impacto do susto nos confronta com o fato de que na vida tudo tem seu tempo. O “objeto” ou circunstância a que nos apegamos irá fazer parte de nossas vidas até que estejamos prontos para subir um degrau acima. Tal como o fruto maduro que cai da árvore ao fim de uma etapa, é melhor então se separar daquilo que já não nos serve mais (deixar que se vá) para que algo novo possa brotar do vazio que ficou.
É comum nos deixarmos ficar paralisados pelo medo quando pensamos em sair do caminho conhecido para nos aventurarmos por um novo mundo nunca antes trilhado. Porém, é preciso saber mudar de calçada quando sentimos que estamos fechados em uma rotina que estreita nossos horizontes.
Quando se instaura esta rotina reconfortante / alienante, isto pode ser um alerta de que é hora de ligar as antenas, aguçar o ouvido, despertar a visão de lince, pois pode ser um sinal de que é hora de alcançar novos patamares.
Um ciclo que se finda pode ser equiparado a algo que se perde, portanto pode ter um sabor um tanto amargo se despedir dele; no entanto, há que se passar por isso, pois a inteligência cósmica em sua sabedoria, muito antes de nós, inquestionavelmente sabe o que estamos precisando e o momento exato para se instaurar um novo ciclo em nossas vidas.
E assim, seguimos o contínuo processo de lapidação, já que conviver com o inacabado é uma condição humana.